sábado, novembro 04, 2006

Notas sobre a Queima das Fitas


QUEIMA DAS FITAS, BREVE HISTORIAL

A Queima das Fitas, de acordo com a forma que hoje possui, só parece ter surgido em Coimbra a partir de 1919.

No entanto, os alicerces que lhe deram origem remontam a 1899, com a realização do Centenário da Sebenta que pretendia ser uma réplica dos centenários comemorados entre 1880 e 1898. A intenção destas festividades seria a de homenagear várias personalidades e acontecimentos. Mais tarde, celebra-se o enterro do Grau.

«O ponto comum destes centenários era a sua apresentação pública na forma de um cortejo, com fogo de artifício, sarau e touradas. Porém, estas formas de homenagem não eram as mais próprias, uma vez que deturpavam o verdadeiro significado das efemérides. Surge assim, a ideia da realização de um centenário humorístico, ridicularizando os até então feitos, tomando por base a sebenta, compilação dos apontamentos do professor. O Centenário da Sebenta passa a ter, assim, um âmbito critico de carácter geral e, ao mesmo tempo, particular, já que se protestava contra a exploração dos sebenteiros. A estrutura de tal manifestação confinou-se a cortejos alegóricos e a um sarau. Tratava-se agora de desenvolver esta ideia.
Nos anos seguintes, o 4.º ano jurídico organiza festas da mesma espécie e introduz um aspecto inovador: o queimar das fitas que se usavam nas pastas e que eram indicadoras da sua condição de pré-finalistas. A fita é uma consequência das pastas dos meados do século passado que tinham para prender as duas partes que a compõem, três laços de fita estreita da cor da Faculdade do utente, um de cada lado, ao meio das bordas da pasta. O queimar das fitas acabou por se transformar num acto simbólico cujo significado assenta no atingir um objectivo próximo: o término do curso.
Em 1905 realizou-se o Enterro do Grau, em consequência de uma reforma dos cursos universitários que mantinha os graus de Licenciado e Doutor e abolia o grau de Bacharel. Este facto levou a um festejo de estrutura idêntica aos anteriores. No entanto o Enterro do Grau é mais uma manifestação a ligar os festejos anteriores ao que viria a ser mais tarde a Queima das Fitas, porque pela primeira vez, se verificou a participação activa da população de Coimbra, começando a verificar-se que a Queima das Fitas era já uma festa de comunhão com a população da cidade, cuja iniciativa pertencia aos estudantes.
No ano de 1913 um episódio marcou a história das festividades académicas, quando no dia 27 de Maio, devido a um incidente motivado pela academia, um tenente da guarda ficou sem o boné.
Eivados da característica irreverência académica os estudantes gritavam constantemente: "olha o boné”. Devido à repercussão que o facto teve na época, este dia foi tornado, durante muitos anos, como o dia principal dos festejos.
Verificaram-se até 1919 alguns interregnos, condicionados pelas condições políticas, económicas e sociais da época como, por exemplo, a proclamação da República, e a 1.ª Grande Guerra Mundial.
Mas foi de facto neste ano, 1919 que as celebrações académicas começaram a adquirir a estrutura que conservam actualmente.

Pela primeira vez os finalistas de todas as faculdades celebraram em pleno a festa da Queima das Fitas, para além de se ter dado um passo importante para a sua sedimentação.»

(in Código da Praxe Académica de Coimbra, 1993)

Notas sobre as Latadas - Dados


AS LATADAS


As Latadas são uma das festividades académicas mais irreverentes e divertidas, marcando actualmente a iniciação dos caloiros à Praxe Académica. Neste cortejo, os caloiros vão vestidos com fantasias ao gosto dos doutores da praxe transportando normalmente cartazes de carácter crítico respeitantes à vida circum-escolar, política e social da nação e da comunidade internacional.
A partir dos anos 50 e 60 passam a realizar-se no início do ano lectivo e não no final como acontecia antes.

Após o fim do período de Luto Académico, em 1979 a Praxe Académica volta à actividade. É a partir desta data que se passa a realizar uma só Latada para todas as Faculdades. Anteriormente, até aos anos 50 e 60, faziam-se tantas Latadas quantas as Faculdades, mas o aumento significativo do número de estudantes levou a que se procedessem a alterações nas realizações das Latadas

As "Latadas" remontam ao século XIX quando os estudantes exprimiam ruidosamente a sua alegria pelo termo do ano lectivo - em Maio. Utilizavam para tanto todos os objectos que produzissem barulho, designadamente latas...

Durante os 3 primeiros dias que antecediam as férias de ponto ninguém na Alta
(Bairro Latino) tinha sossego. Das instituições académicas subsistentes foi das
que melhor testemunhou o longo processo evolutivo, porquanto chegou quase aos
nossos dias ligada simultaneamente à cerimónia de imposição de insígnias e à
iniciação dos caloiros (baptismo).
Como a “Queima” as “Latadas” representam
um modo de reconhecer a autenticidade das instituições e o poder político
decorrente da legitimidade saída de uma sociedade fortemente tradicionalista.»
(in A sociedade tradicional Académica Coimbrã de A.R. Lopes, s.d.,)

Analisemos o relato de Trindade Coelho para tentarmos compreender melhor a vivência académica do seu tempo:

«Ora foi na aula do Chaves, nem mais nem menos, que o Pássaro, rasgando uma
folha em branco da Novíssima Reforma Judiciária, fez no 4.º ano o programa das
latas, o célebre programa das latas, que é hoje raríssimo, e uma das peças
clássicas da boémia de Coimbra - tão afamado como o Palito Métrico! Apanhado, o
programa foi impresso; e impresso, não houve ninguém que o não comprasse no dia
seguinte, à Porta Férrea, por um vintém - pois que de mais a mais tinha
oportunidade: as aulas de Direito fechavam-se nesse dia, e à noite, como era da
tradição, a rapaziada tinha de sair pelas ruas de Coimbra - naquela
extraordinária inferneira chamada a Festa das Latas, em que cada um, incluindo
os novatos, que nesse dia ficam emancipados e já podem sair de noite sem
protecção, arrasta atrás de si as latas que pôde ir juntando durante o ano, ou
as que comprou na «feira das latas» aos garotos, que vendem uma banheira velha
por um pataco e três cântaros de «folha» por um vintém!
Essa é a tremenda
noite de Coimbra, em que ninguém prega olho - troça aos estudantes das outras
Faculdades, que ainda têm aulas no dia seguinte -, e que uma vez obrigou a fugir
não sei que inglês touriste, que berrava, de mala na mão, a correr para o
caminho-de-ferro:
- Doidos! Doidos! Doidos varridos!» Fim de citação.


Bibliografia: In Illo Tempore; Coelho, Trindade; Publicações Europa-América, Livros de Bolso, n.º 287; s.d.; pp. 14

Notas sobre as Origens da Universidade em Portugal


AS ORIGENS DA UNIVERSIDADE EM PORTUGAL



As Universidades surgiram em Portugal no Sec. XIII, pois nessa época o nosso país vivia um ambiente cultural e sócio-económico próprio.
Na altura era a Igreja que detinha todo o monopólio do ensino e do saber, mais ainda, cada vez mais sentia a necessidade, por ser universal, de que todos falassem a língua oficial desta: o Latim. Ora, só o podia falar quem o tivesse estudado. Deste modo os grandes mosteiros e catedrais mantinham escolas que aos poucos foram proliferando.

A mais antiga referência a estudantes portugueses aparece num documento de 1072 relativo à catedral de Braga, sendo que o mais antigo professor é mencionado num outro documento que data de 1088 e que dava pelo nome de Pedro Gramático.
D. Afonso Henriques teria ele também um amigo chamado João Peculiar que era mestre na escola da catedral de Coimbra sendo mais tarde um dos fundadores de Santa Cruz de Coimbra (1131).
Inicialmente virado para o clero, o ensino em breve se alargou para as gentes da emergente burguesia nascendo assim os centros de ensino, laicizando o saber.

A fim de não proliferarem “mestres” e alunos sem se exercer o mínimo controlo e, com o crescente número de mentores de uma multidão de alunos, a Igreja disciplinou o ensino e exigiu que os mestres possuíssem uma licença para ensinar (“Licentia Docendi”), daí o nome de “licenciado”.
Como este estudo se destinava quer ao clero quer aos leigos, para ser distinguido do ensino reservado apenas aos clérigos, passou-se a chamar de estudos gerais, sendo na base destes que nascem as Universidades. Universidade: palavra que tem origem latina “Universitas” que significa conjunto ou totalidade.

A Igreja, mediante o crescente aglomerado de mestres e alunos, uns do clero e outros não, cognominou esse conjunto de Universitas Scolarum et Magistrorum, sendo reconhecida primeiramente a de Paris [entre 1200 e 1231 (1215 segundo J. H. Saraiva)] e mais tarde a de Toulouse e Bolonha. (1229). Em Espanha temos Palença (1214-1216) e Salamanca (1230). Embora muitos apontem a Universidade belga de Louvaine (“Leuven”) como a primeira de todas, os registos apontam para a sua fundação em 1425-26 (in “Le Petit Larousse illustré” de 1995).

A consciência de que os tempos eram novos, de que se opunham à época precedente, gera uma consciência polémica que define alguns aspectos da nova mentalidade, da vontade de instaurar outras formas de educação e de vida: uma outra sociedade. É dentro deste movimento que os prelados portugueses superiores de algumas ricas comunidades eclesiásticas ( Alcobaça, Santa Cruz de Coimbra, S. Vicente de Lisboa, Santa Maria de Guimarães, entre outros ) dirigem uma petição ao Papa (1288) com o fim de que este os autorizasse a aplicar uma parte dos rendimentos na sustentação de um estudo geral em Lisboa, facilitando a formação de pessoal para a Igreja e evitando os perigos e despesas que a frequência dos estudos noutros países exigia.
O Papa Nicolau IV através da Bula STATU REGNI PORTUCALIAE (1290) confere então a Lisboa o tão ansiado estudo geral, sendo nesse mesmo ano confirmado o estudo, em Carta promulgada por El- Rei D. Dinis: “ Dada em Leiria a 1 de Março. Por mandado d´El - Rei a notou Afonso Martim. Era de 1328.” (1290).
Os estudos extramonacais começaram portanto com um atraso de muitas dezenas de anos em relação a outros países, tal deve segundo alguns estudiosos, quer no facto de a influência de Santa Cruz de Coimbra e de Alcobaça junto dos nossos reis, que julgava suficiente os centros de estudos existentes, suficientes para satisfazer as necessidades culturais da época, quer pela influência do ensino feito à margem da Igreja, nas sinagogas, onde estudaram muitos colaboradores dos primeiros monarcas.
Seja como for, está também nas causas deste atraso, o baixo desenvolvimento social e cultural, que levava muitos portugueses a irem estudar para outras paragens, D. Sancho I teria disposto de 400 morabitinos para pagar estudos de portugueses no estrangeiro. No entanto, mesmo com os estudos gerais em Lisboa, apenas os mais pobres por lá ficavam, pois quem tinha posses enviava seus filhos para o estrangeiro, como por exemplo para Montpelier (criada em 1289) , pois frequentar as universidades estrangeiras era muito mais prestigiante. Deste modo Lisboa e os seus estudos gerais limitou-se a ter uma função secundária ao serviço da Igreja e do Estado: para a primeira preparava religiosos, bons sabedores de Latim e para o segundo, criava letrados que eram encaminhados para a burocracia ou, à margem dela, exerciam a advocacia.


Nunca se chegou a construir um edifício próprio para a universidade como aconteceu em Coimbra sob mando de D. Dinis, não se sabendo por isso onde funcionou a primeira universidade portuguesa.
A Igreja continuava a possuir entre os seus membros os mais cultos da sociedade da época contudo, os estudantes começam a formar uma camada social à parte pela sua rebeldia e irreverência o que provocava desacatos com as autoridades militares e conflitos escolares com os cidadãos. Assim, a Universidade criou um "Foro Académico" que libertava os estudantes de responder em tribunal civil e desta forma separa os estudantes da população. Esta separação entre estudantes e demais sociedade está patente através da transferência da Universidade para Coimbra em 1308 e 1354 por ordem do Rei, umas vezes pela pressão popular, farta de zaragatas e de barulhos outras vezes, pela ameaça da burguesia cuja Universidade era o suporte ideológico e cultural.

Voltará a Lisboa em 1377 por vontade de D. Fernando, que alega que só com a Universidade em Lisboa poderá contratar mestres no estrangeiro pouco dados a viver na província longe do centro geopolítico do reino.
A influência das universidades na sociedade de então é, segundo alguns autores, mais importante do que nos é dado pensar; há quem afirme que a revolta dos concelhos contra D. Dinis ter tido como principal mentor um advogado de Beja; deste modo já não eram os simples vozeiros que defendiam as causas de justiça apoiados numa retórica pouco fundamentada mas sim verdadeiros doutos em Direito (ensinado nas universidades) que sabiam a lei e os processos mais intrínsecos das “démarches” judiciais.
A Universidade será mais tarde e finalmente implementada em Coimbra de onde nunca mais se desenraizou.
O estudante, demarca-se assim da população, constituindo uma classe que cada vez mais é prestigiada, distinta, até, pelo uso do Traje Académico, constituído pela batina e pela capa, cuja forma original sobrevive ainda no "Hábito Talar" dos actos de Doutoramento.


Os problemas e os distúrbios dos estudantes, o facto de a Universidade andar em bolandas de Coimbra para Lisboa e definitivamente para Coimbra, conotou o Traje como Coimbrão. E assim, Coimbra, a " Menina e Moça" do Mondego, tornou-se a “Mãe” de toda uma tradição aqui nascida e enraizada. Com a expansão das Universidades e a proliferação dos Institutos Politécnicos, as praxes são levadas aos quatros cantos da nossa "Lusitânia", como é o caso da vetusta "Ciuitas" de Viseu, capital da Beira Alta.
O estudante com o seu traje típico foi habituando a sociedade portuguesa, àquele indivíduo simultaneamente generoso, impertinente e sentimental. Criou-se quase uma lenda, um tipo social, a quem todas as audácias eram permitidas. As suas extravagâncias e boémias, todo um conjunto de usos e costumes que a tradição oral e escrita fixou e transmitiu, constituiu uma lei e uma moral à parte da sociedade: A Praxe Académica. É este tipo de estudante que se imortalizou e fez passar a tradição de geração em geração.


Celebrizou-se o estudante libertino da quadra popular, do canto amoroso, da saudade, do eternizar da mocidade, nos quais se contam Augusto Hilário, imortal estudante coimbrão que nasceu e morreu em Viseu e, que para melhor eternizar o canto e canção coimbrã, dotou o fado de lindos poemas e baladas de amor que contribuíram para o enriquecimento da nossa cultura, um símbolo da nossa Universalidade Lusa, que é o amor cantado e celebrado nas serenatas, deixando pairar no ar um nostálgico Sebastianismo, num eterno voltar às origens.

Texto adaptado de “História Concisa de Portugal” de J. Hermano Saraiva, “colecção saber” das publicações Europa-América

Notas sobre o Traje Académico - do Hábito Talar à Capa e Batina



Traje Académico, do Hábito Talar à Capa e Batina

Comummente conhecido como “Capa e Batina”, o traje académico representa tão somente uma feição contemporânea do “Hábito Talar”, indumentária clerical que existe desde a fundação da Universidade em Coimbra (Bula “STATU REGNI PORTUCALIAE” do Papa Nicolau IV), por D. Dinis “O Lavrador”(1279-1325) em 1290. Com efeito, desde sempre e durante a idade média a maioria dos escolares eram clérigos que trajavam conforme a sua condição e hierarquia.
Os Doutores, Mestres e Lentes distinguiam-se pelo uso do vestido talar de inspiração romano-clerical (loba e sotaina) e Becas coloridas segundo a moda reinante na corte, isto, além dos hábitos das ordens religiosas, num todo complementado pelo Capelo ou Murça e Barrete com borlas (semelhante ao usado pelos cónegos), ao qual se juntava o Anel e a Capa.
Os Escolares por seu lado vestem consoante a sua condição de civis ou eclesiásticos, sendo elementos mais característicos a Loba, a Sotaina e a Capa, que aliás acabam por prevalecer a partir do séc. XVI.
Com D. João III, na sua ordenança para os estudantes datada de 1539, podemos já falar em Traje Académico, onde o mesmo é rigorosamente definido (Loba, Sotaina, Capa com gola, Calções de talho liso, Botas ou borzeguins e Barrete redondo ou tricórnio). São no entanto inequívocas as influências sofridas da vizinha Espanha (Valladolid e Salamanca), nomeadamente nos cerimoniais académicos (de notar por exemplo que os cerimoniais de doutoramento em tudo se assemelham aos da ordenação dos Bispos), até porque as primeiras insígnias académicas eram as trazidas pelos escolares que estudavam em Paris, Bolonha ou Salamanca.
O Traje Académico oscilou sempre na sua composição em razão de muitos clérigos trajarem segundo a sua condição, ordem a que pertenciam e hierarquia que ocupavam ,etc.
Verificam-se diversas alterações no traje que ocorrem no séc. XVI, XVII e XVIII, sendo que o actual tem origem no séc. XIX com implementação da calça comprida, camisa e gravata e botins pretos (o calção, meia, sapato de fivela e cabeção apenas se mantêm nos cerimoniais de Doutoramento e Actos de Bacharel).
O actual traje, vulgo "capa e batina" é um corte com as antigas vestes talares, fruto do contexto republicano e anti-clerical vivido na época, substituindo as antigas paruras por um modelo assimilado, ou em tudo parecido, com as vestes burguesas. A capa, que incialmente estava previsto desaparecer, é mantida pro vontade exclusiva dos estudantes (pelo imaginário romântico masculino dos romances de capa e espada). O seu uso dissemina-se, gradualmente, a partir da década de 80 do séc. XIX, embora conviva com outros trajes equiparados e reconhecidos com trajes académicos (trajes militares ou o usado na Escola Agrária de Coimbra). Será só a partir de 2ª metade do séc. XX que a capa e batina assume o seu actual cariz transversal e nivelador em termos estéticos, até ao surgimento de novos panos (a partirde dos anos 80/90 do séc. XX).

Em 1911 o Governo da República decretou a extinção da obrigatoriedade do uso diário do traje, que se continuou a usar por pressão dos estudantes do Orfeão e Tuna de Coimbra e Porto, segundados pelso estudantes de Lisboa.


Só na década de 1957 o traje ganha sobriedade passando este a ficar (bem como tudo o relativo à Praxe) sob tutela do Conselho de Veteranos.
O Traje feminino surge pela mão das estudantes do T.E.U.C. que avançaram em 1951 com um modelo de Fato Saia-Casaco, pois até aí trajavam um modelo mais perto da tradição anglo-saxónica. A partir de 1953 predominaria o novo traje cuja divulgação em muito se deve ao surgimento do Coral de Letras e do Orfeon Misto.

Bibliografia: “Subsídio para o estudo genético-evolutivo do Hábito Talar na Universidade de Coimbra” de António Nunes, [in Revista “Via-Latina” – Ad Libitum, 1988/89.]

Notas sobre a Praxe Académica - Breve Resenha Contextual

A PRAXE ACADÉMICA


Por Praxe Académica entende-se os usos e costumes que, perpetuados entre os estudantes desta Universidade, adquiriram estatuto de tradição entre os estudantes do Ensino Superior.
Desta forma, a Praxe Académica engloba os ritos, usos protocolares, regras de conduta, simbologia e demais manifestações estudantis que, enraizadas e legalmente enquadradas, transmitem e manifestam uma dada identidade comunitária, vivida e posta em prática por quem nela se insere.
A palavra Praxe é, no entanto, extremamente recente sendo que esses usos e costumes tiveram a sua génese num conjunto de hábitos vivenciais normalizados entre os clérigos de ordens monásticas mais simples, nesse conjunto de escolares pobres e mendicantes que criaram um “modus vivendi” muito “sui generis”.
Com efeito, embora se aponte para o séc. XIV o início da Praxe Académica, temos conhecimento dela sob o nome de “Investidas”, termo utilizado a partir do séc. XVI. Dessas “Investidas”, constava um pouco de tudo: a tourada, a picaria, os insultos, a caçoada, o pagamento de patente dos novatos aos Veteranos, as troças, o canelão (pagamento de direitos pelo novato, que podia desembocar numas caneladas algo dolorosas para os caloiros).
Com estes ritos algo “ríspidos”, não é admiração encontrarmos pela primeira vez a palavra Praxe em 1863 (e de novo em 1872) ligada ao adjectivo “selvático” o que mostra a opinião da população no que respeitava a tais práticas.
A palavra Praxe toma o seu contexto actual com o desaparecimento desses ritos e alargamento do seu significado para além da estrita relação entre Veterano e Caloiro, passando a congregar todo um conjunto de actividades dos estudantes universitários fundada na tradição que, no desenrolar da sua história, tende a cristalizá-las em formas quase rituais.

Bibliografia: “Subsídio para o estudo genético-evolutivo do Hábito Talar na Universidade de Coimbra” de António Nunes, [in Revista “Via-Latina” – Ad Libitum, 1988/89.]