quinta-feira, outubro 25, 2007

Notas sobre III Congresso Nacional da Tradição Académica

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III Congresso Nacional da Tradição Académica

Após o sucesso do I congresso em Évora, o Magnum Consillium Veteranum da Universidade do Porto, respondendo ao repto lançado, prontamente se empenhou e organizou distintamente o II Congresso Nacional da Tradição Académica.

O III Congresso Nacional da Tradição Académica pretende por isso, continuar o debate iniciado nos I e II congressos, englobando, desta feita, todos os agentes que participam na “Tradição Académica”, não estando limitado apenas aos órgãos que a coordenam e regem.O Conselho de Notáveis da Universidade de Évora vem por este meio convidar todos aqueles que perpetuam a Tradição Académica a participar no III Congresso Nacional da Tradição Académica.


PROGRAMA:

Dia 1 de Novembro - Quinta-feira

Dia da Universidade e da Abertura Solene das Aulas
- Empossamento dos Novos membros do Conselho de Notáveis da Universidade de Évora
- "Capamento"
- "Chocalhada"
- "Largada dos Sapatos"


Dia 2 de Novembro - Sexta-feira


14:00 - Sessão de Abertura

* Magnifico Reitor da Universidade de Évora
* Drª Renata Amaro
* Representante do Governo Civil
* Membro do Conselho de Notáveis

15:00
- Conferência: "Cegarrega e o Conselho de Notáveis – 20 anos"
* Moderador: Membro do Conselho de Notáveis
* Dr. Manuel Cabeça (Notável fundador)
* Prof. José Rafael (Notável fundador)
* Luís Matos (Membro actual do Conselho)

16:00
- Coffee Break

17:30
- Conferência: "O traje académico - Origens e Evolução"
* Moderador: Membro do Conselho de Notáveis
* Prof. Doutor Armando Carvalho Homem (Universidade do Porto)
* Membros das academias de Coimbra, Aveiro e Minho


Dia 3 de Novembro - Sábado


14:00
- Conferência: "A tradição académica e a cidade"
* Moderador: Vasco da Câmara Pereira (Ex "Geraldo ou Geraldes sem Pressa")
* Prof. Doutor Manuel Ferreira Patrício (Ex - Magnifico Reitor da Universidade de Évora)

15:00
- Conferência: "As Tunas Académicas como vivência da tradição"
* Moderador: Membro do Conselho de Notáveis
* Membro da Tuna Académica da Universidade de Évora (T.A.U.E)
* Membro da Tuna Feminina da Universidade de Évora (T.A.F.U.E)
* Membro do Grupo Académico Seistetos (G.A.S)
* Membro da Tuna Académica de Évora (T.A.E)
* Membro da Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico (T.U.I.S.T.)
* Membro da Tuna Universitário do Porto (T.U.P)
* Membro da Estudantina de Coimbra


16:00
- Coffee Break

16:30
- Conferência: "Tradição Académica – Perspectivas Várias"
* Prof. Doutor Aníbal Frias (Universidade da Sorbonne - Paris)
* Luís Filipe Borges (Apresentador)
* Caloiro da Universidade de Évora

17:30
- Conferência: "Processo de Bolonha e o futuro da Tradição Académica"
* Moderador: Prof. Bravo Nico (deputado)
*Membros das academias de Évora, Coimbra, Porto, Minho, Aveiro, Covilhã, Vila Real e Madeira

18:30
- Sessão de Encerramento
* Magnifico Reitor da Universidade de Évora
* Membro do Conselho de Notáveis

Contacto para mais informações: 962730354

terça-feira, outubro 02, 2007

Notas de cor sobre a Capa e Batina

Porque me foi pedida essa informação, e também porque acabei por perceber que não havia dados sobre o assunto, escreverei breves linhas sobre a razão de ser da cor negra do traje académico.

Antes de responder, farei uns breves considerandos para contextualizar, aproveitando para desfazer o mito do "traje comunista", utopia de uma só classe.
Como muitos saberão, certamente, a "capa e batina" não tem origem nas lobas, sotainas e batinas do clero, mas em vestes burguesas que vieram substituir ou sobrepor-se à "abatina", numa clara tentativa progressista e anti-clerical iniciada na década de 80 do séc. XIX.
Ao contrário do que muitos pensam, e apregoam à boca cheia, a capa e batina, como traje académico, não foi instituída para criar qualquer paridade ou igualdade entre os universitários (entre pobres e abastados). VER AQUI
O argumento de que o traje serve para esbater as diferenças sociais não podia estar mais errado.

Se o traje talar assumia feições de "uniforme" para diferenciar os estudantes das demais classes sociais, para identificar o foro académico que reclamava, para si, o direito de ser uma classe à parte (vincadamente diferenciada da dos artesãos, juristas, comerciantes, médicos, etc.), a Capa e Batina deu seguimento a essa identitária diferenciação, servindo, para identificar o estudante português.
Assim, o traje académico foi a componente visível do estabelecer de uma identidade que se queria demarcada e prontamente identificada, não sendo confundida com nenhuma outra classe, profissão ou mester.

Eis a razão do traje.

Dizer que foi para tornar todos iguais é uma patetice, já que, até à nossa história recente, os que cursavam a universidade vestiam conforme a sua condição (daí haverem panos melhores, mais berloques nuns, cores diferenciadas noutros, etc.), variando inclusive o tipo de traje em certas instituições (Agrária, em Coimbra, que sempre teve traje diferenciado, por exemplo).
E se recuarmos aos modelos anteriores á abatina, então encontramos trajes com outras cores, como o castanho, o cinzento, ou até o branco, conforme a indumentária em vigor nas ordens religiosas e segundo o grau hierárquicos dos clérigos que frequentavam os estudos gerais.

Quando se fala em traje académico que veio tornar todos iguais, isso é tão somente um consequência (recente, até), possível quando o traje se fixou com um padrão definitivo trazido pela produção em linha por parte das fábricas de confecção, pois que é de La Palisse que quando todos trajam igual não haja diferenças, mas isso é descobrir o óbvio.....a posteriori.


E a cor do traje?
Por que razão o preto?

Tem razão de ser a pergunta, porque a resposta não se encontra nos muitos estudos evolutivos do traje ou discertações sobre a origem do mesmo que pululam na net, em sites "especializados" sobre praxe ou traje (eu, pelo menos, nunca encontrei, diga-se).
Fica, aqui, em 1ª mão na Internet (pelo menos), essa explicação, convindo salientar que nem sempre os trajes estudantis foram pretos, convivendo com estes, nomeadamente, os de cor castanha.

Antigamente a "abatina" (de que derivará o termo "batina"), com origem em França e Itália, era usada  por padres e sacerdotes da Igreja Católica para que eles fossem reconhecidos como tais, uma norma que foi abolida (abolição da obrigatoriedade) no Concílio Vaticano II.
A "abatina" era conjunto de capa e túnica (talar) dos abades seculares de França ou de Itália, com vestido de seda negra, capa curta, volta singela e cabeleira pequena.
O preto, que tingia suas vestes, representa o luto, ou seja o desapego do sacerdote pela vida mundana (morrendo para o material, para o mundo "carnal"), para se dedicar a Deus e ao bem comum. Assume carácter simbólico de renúncia e de missão, de entrada num novo estrato social, num novo ministério.

Assim, o preto, que também simboliza, quando brilhante, nobreza, distinção, elegância e masculinidade, acabou por se manter, obviamente, no "paramento académico", não em razão do significado eclesiástico da "abatina", mas pela ideia de dignidade que a cor empresta, para além do cariz pragmático de uma cor que fica bem em qualquer ocasião, além de se sujar menos.
Bastará anuir que a quase totalidade dos que trajam não sabem a razão da cor preta, colando-lhe interpretações várias, muito romanceadas mas imprecisas.

É certo que, romanticamente, poderão muitos doutos emprestar-lhe novas significações e simbologias, como a ideia de noite, de mistério, de fuga, disfarce/camuflagem ou vadiagem, que podem associar-se ao noctívago e boémio estudante ou à arte de "correr la tuna"e .......... correr saias (e/ou fugir de algum pai ou irmão mais "ultrajado"), mas uma coisa são os mitos romanceados e outra são os factos.

Eis, pois, a razão de ser da cor preta nos nossos trajes académicos que, apesar de terem preterido o modelo da "abatina" (um modelo que diferia da dos lentes, que era talar, por ser mais subida) por um modelo laico (na definitiva separação escolar entre Igreja e Estado), mantiveram a cor, emprestando-lhe ou substituindo a significância clerical por uma mais civil, mais assente na etiqueta e no ideário do preto como cor solene, tida como mais em linha com a ideia acima referida de porte formal, de sentido prático (que fica bem em qualquer ocasião), de vantagem em se sujar menos.

Notas sobre o Colete....de forças!

Noticiado recentemente, através, nomeadamente, da TV, parece que, lá pelos lados do Mondego, se vive uma situação assaz insóltia sobre as incidências da revisão do Código da Praxe e o traje feminino.
Em idos de 2001, foi dada a opção das senhoras usarem colete por baixo do casaco. Seja por que razão for, o uso, apenas opcional, disseminou-se por toda a academia, passando colete a entrar com naturalidade, como peça do vestuário feminino do Traje Académico.
Não era obrigatório, mas era permitido, daí que, com mais ou menos pressões comerciais, passou a ser peça presente na venda do traje.


Ora, parece que a opção dada foi AGORA revogada e que a nova revisão do código conimbricense proíbe determinantemente o uso do dito colete pelas senhoras.

Dura praxis sed praxis, diríamos nós. O Conselho de Veteranos legislou, e decidiu, e em matéria de praxe as decisões decretadas, por aquele que é o órgão máximo da praxe, são lei.

Contudo, tal não implica que seja uma decisão correcta. Pessoalmente, julgo que não é, de todo, o caso, muito menos os motivos aludidos que empalidecem que os proferiu.

Antes de mais, deveria ter sido salvaguardado o caso da retroactividade da lei, não penalizando quem já usa o dito colete ou ou adquiriu, até à aprovação das alterações à lei.
As novas disposições deveriam entrar em vigor para todos aqueles (aquelas, neste caso) que, posteriormente à mesma, viessem a trajar.
Neste aspecto, parece que a decisão não foi "coerente".

Quanto às razões evocadas pelo Dux-Veteranorum da academica de Coimbra, parecem-me mal urdidas e amanhadas, e os argumentos apenas provam incompetência e falta de saber.
Justificar o colete como sendo peça de vestuário tipicamente masculina, quando actualmente a calça (que sempre o foi) é de uso comum em ambos os sexos, parece-me ser mais machismo do que tradição (nós, homens, que até já usámos longos vestidos na idade média).


Parece-me que o Dux-Veteranorum de Coimbra precisa de rever os seus apontamentos sobre traje e etnografia, já que o colete é peça do vestuário feminino há muito tempo (apresentando-se, também em alguns casos, sob a forma de corpete) e em muitos locais do país (e estrangeiro). Basta dar o exemplo do trajo de trabalho das mulheres de Espinho, do colete vermelho das senhoras da Póvoa do Varzim, da lavradeira do Minho, só para citar alguns.

É pois, muito pouco consentâneo ouvir afirmações desse tipo em directo para a televisão. Todo e qualquer pessoa minimamente conhecedora de folclore, por exemplo, já para não dizer de história ou etnografia (ou de praxe), certamente que se levanta da cadeira perante tais argumentos.
Para um líder de uma cademia de referência, a nossa Alma Mater, fica uma pálida imagem da qualidade e competências que assitem a quem deve ser um exemplo de excelência no conhecimento das matérias que tem por função promover, preservar e orientar.

O colete não retira a feminilidade das mulheres - quando até é uma peça que usualmente se usa debaixo da batina/casaca, e muito menos em que é que tal possa atentar à tradição, principalmente depois da "abertura", velada de opcional, dada em 2001.
Este tipo de avanço e retrocesso, a jeitos de "experiência piloto" é um tiro no pé e um hino à falta de ideias e bom-senso de quem preside aos destinos da Praxe.

Por outro lado, o uso do colete beneficia, até, o porte e postura, evitando que as batinas pareçam árvores de Natal ou oficiais soviéticos, de tantos p'ins que levam nas lapelas (há quem nem se dê conta do ridículo dessa ostentação desbragada), passando os ditos "coisos" para um local mais discreto: o colete.
Não é o caso em Coimbra, mas a sua utilidade provou-se noutras academias, também para o caso dos pins.

Assim, em momentos ou eventos de maior cerimónia, basta fechar/abotoar a casaca ou batina e fica-se com um aspecto mais condigno, formal e aprumado, secundum praxis.
Na minha academia (de praxis baseada na de Coimbra), aquando da revisão do código (1998/99), foi introduzido o colete no traje feminino, algo que trouxe maior comodidade às senhoras (menos expostas fisicamente, e com local onde porem, para as mais "vaidosas" os p'ins).
Tal não retirou, nem menorizou, a estética do seu traje e do seu porte, e muito menos lhes acrescentou "pêlo na venta".

Já se viveu, em tempos, a guerra das calças, que muitos temas do nosso folclore e música popular ilustram.
Estaremos para assistir a novo reatar bélico entre géneros?

A primeira pedra já foi atirada pelas calças do Conselho de Veteranos. Aguardamos a resposta das saias da Academia Coimbrã.