terça-feira, novembro 13, 2007

Notas sobre uma execrável desafinação!

Para ser coerente com a linha editorial a que me propus, e com a postura que sempre adoptei na vida, terei, também aqui, de usar este espaço, também dedicado a Tunas, de facto, para fazer referência a algo que, de todo, o não é, denunciando o travestir e a pretensa legitimidade de uma coisa que se apelida de tuna, mas mais não é do que a caricatura disforme de uma dantesca figura camaleónica.


Se as sapatilhas da Cartola fizeram correr muita tinta, talvez pela projecção que a mesma tem, e pelo percurso conforme que sempre teve, antes de "virar o bico ao prego" (e não falo exclusivamente da bota), este grupo de pseudo-tunos, consegue ultrapassar, em muito, o até aqui conseguido.


Já dele tinha ouvido falar, ou melhor: ouvira falar sobre o exisitir um traje assim num instituto qualquer, mas hoje podemos tecer considerandos de forma mais explícita, dado que, também estes, fazem questão de ostentar essa coisa a que chamam Traje Académico, através de fotos, em blogue próprio e de acesso ao público em geral!




Estes........ (faltam-me as palavras) são uns tais que se auto-intitulam de A Tuna Académica do IADE (Instituto Superior de Artes Visuais, Design e Marketing) e usam, segunda consta, o traje em vigor lá pelas bandas da sua instituição de ensino.


Obviamente que estes senhores precisavam de cursar algumas cadeiras de história e, quiçá, de uma qualquer terapia que remediasse tamanha ignorância, descaramento e estupidez.


O que estes tais ousam fazer não nada menos que delapidar e atentar aos nossos valores e património académico, ousando misturar uma peça de origem anglo-saxónica (da Escócia, para ser mais preciso), o Kilt, com uma camisa branca, colete e gravata, "roubados" à capa e batina, ao traje nacional, e colocando uma capa preta pelos ombros.

Como saberão os leitores, o traje académico existe para distinguir o foro académico dos demais mesteres. Desde logo por isso é que, por exemplo, a incorporação de  peças do folclore e etnografia regional, onde a figura do estudante é inexistente, se afigura um paradoxo. Com efeito, o Traje Académico é um traje corporativista (uniforme estudantil), e não pano identitário de uma localidade ou de uma actividade agrícola, piscatória ou outra que não a estritamente expressiva da condição de estudante (figura inexistente na etnografia e folclore).
Mas o Kilt nem sequer é isso que acima se descreve. Nem sequer vai beber a qualquer tradição etnográfica portuguesa. Esse "traje" o que faz, é desmembrar o Traje Nacional (desde logo um desrespeito enorme) e costurar-lhe peças escocesas que, por sua vez, nada têm a ver, no país de origem, com estudantes - recordemos que a Escócia não tem traje universitário e que o Kilt em nenhum momento é próprio de estudos, antes um traje etnográfico próprio de uma geografia que nada, mesmo nada, tem a ver connosco.
Assim sendo, essa importação é, ela própria, um atentado cultural, pois também faz do traje escocês uma espécie de "rodízio", onde se escolheu o que se achou giro, travestindo o próprio significado do traje anglo-saxónico.
Esse McTraje é, por isso, uma roupagem que nem é o traje etnográfico escocês, nem o traje académico nacional. É uma aberração folclórica digna de um carnaval circense, sem qualquer credibilidade ou fundamentação histórica.


Sacrilégio gritariam muitos a dar cambalhotas no túmulo, disso não duvido, tal como, pessoalmente, me dá uma nausea ignara e abjecta ao olhar para esta..........."coisa".

Só mesmo nesta Lisboa, que já não é de outras eras, pois estou certo que, noutras urbes (e estou a lembrar-me da Invicta, por exemplo), até a antiga polícia académica ressurgiria das brumas.


É pacífico, mesmo se não consensual, as indumentárias equiparadas ou semelhantes às dos nossos vizinhos espanhóis (e de que temos exemplos vários cá em Portugal), até porque neles inspirados e/ou com eles partilhando muitos laços históricos, culturais e sociais, mas fazer a importação do Highlander Connor ou Duncan McLeod, só porque um qualquer afecto ao filme/série "The Immortal" achou piada e pensou ser isso criatividade e arte........deixem-me que me vire pró lado e regurgite o meu jantar.


Não posso crer que seja por ignorância em alunos que cursam o ensino superior, ou então alguma coisa não está bem na exigência colocada para se militar nessa instituição, pois que mesmo o mais néscio saberia ter o discernimento e aplicar algum bom-senso em questões de praxis e tradição no que respeita ao Traje Académico e à Tuna Portuguesa (seja ela popular, ou de cariz estudantil), não perpetrando tamanha heresia escatológica.


Deixem-me o direito à indignação, depois ao riso e, finalmente, ao gozo.
Compreendam que,  perante esses preparos e vil ataque à cultura escocesa e portuguesa, a última coisa que tal indumentária me merece é respeito e consideração. Isso não é Tradição nem tem fundamentação em nenhum acultura estudantil portuguesa ou seja de que país for.
A instituição merece-mo, muitos dos seus alunos também, mas a decisão de tal, a argumentação e a configuração desse suposto traje...............nenhum.


Como diz o reclame, mas eu incuto-lhe um tom sarcástico e irónico: "Há coisas fantásticas, não há?"


Nota de 25 -11-2007: A pedido do Ensaiador do grupo em questão, Júlio Martins, que solicitava o retirar das fotos, decidi manter as mesmas, mas tapando a cara dos intervenientes para, assim, as pessoas fotografadas não serem personalizadas ou "coladas" com os juízos de valor tecidos sobre os alunos e membros do grupo musical em questão (preocupação do Senhor Júlio Martins que compreendo).

As fotos constantes neste artigo foram retiradas do blogue da TAI.