segunda-feira, maio 26, 2008

Notas de outrém sobre o blogue (IV)

O Notas&Melodias, desta feita referenciado pelo blogue maisK3D, com especial incidência sobre um artigo respeitante à Polifonia nas Tunas (Julho de 2007):



quarta-feira, maio 21, 2008

Notas sobre a Praxis Olissiponense (II).

Realizada que foi a Benção das Fitas na cidade universitária, em Lisboa, oferece-me lançar alguns considerandos que irão ao encontro do já dito, em anteriores artigos, sobre praxe, pasta, fitas, entre outros.

Não é a primeira vez que urdo um reparo à praxis lisboeta (daí esta 2ª Nota) e ao modo como ela é entendida e vivida, até porque, como os leitores mais atentos se recordarão, por mais que uma vez afirmei, não se poder falar propriamente de praxe, de verdadeira praxe, nesta academia, mas, desta feita, julgo que importa que os leitores alfacinhas, ainda ligados a esta vertente do exercício da cidadania académica, possam sair da sua letargia e imprimir um outro caminho, sob pena de “abandalhar”, definitivamente, o actual circo em que se tornou a praxe por estas bandas.

Este fim de semana que passou, as televisões, como é costume, deram alguma atenção à celebração da Missa dos Finalistas, com alguns canais a entrevistarem alunos em conclusão de curso. Nada de anormal, pelo contrário, neste particular (pena é não o fazerem noutras ciades). Anormal, isso sim, é o que se continua a ver e ouvir.

Saberão os académicos, os estudantes do ensino superior em que consiste a Pasta da Praxe? Não sabem, isso é um facto, bastando ter visto os simulacros de pastas abanadas com uma parafernália de fitas que mais parecia um carnaval carioca.
Saberão, estes mesmo estudantes, que as fitas a usar são em número de 8 apenas, e que existe uma ordem de colocação e atribuição das mesmas para assinar?
Não sabem, é facto, não apenas pelo que na TV se ouve (a roçar o ridículo ou o cómico por tanta ignorância junta) ou pelo que eu próprio constatei por antigos alunos meus.

Já nem vou falar, sequer, no trajar com malas e malotes de senhora, porque me dá voltas ao estômago.
O que prendeu a minha atenção foi ouvir uma finalista a explicar ao jornalista a simbologia do seu traje, símbolos, pins e afins.
Hilário e tantos outros académicos devem ter dado muitas voltas “em número ímpar”, onde quer que estejam!

Com que então, o grelo, pregado na lapela esquerda com in pin (!?!), é composto por duas fitinhas de seda?
Com que então usa-se grelo e fitas ao mesmo tempo em missa de finalistas?
Com que então a colher de café, posta na gravata é símbolo académico?
Com que então, o traje serve de uniforme militar, onde nem as golas se véem de tanta “medalha” (vulgo pins) ganha, e que se usam, principalmente, em cerimónias oficiais?
Com que então pasta comprada “na stapples” (ou equiparado), brasonada por fora com logotipo, é Pasta da Praxe?
Com que então usa-se pasta e fitas sem traje?
Com que então ela, a Pasta, só serve para transportar milhentas fitas (na moda de que é uma por cada subscritor)?

Tenham lá paciência, mas pergunto quem andou a formar, ensinar e orientar estas pessoas na praxe, porque, esses sim, são os verdadeiros culpados e hereges, num acto de vandalismo à tradição e cultura académicas sem precedente.

Não posso, em consciência, colocar o todo o ônus da culpa apenas nos finalistas e outros, porque muitos não têm culpa de quem inventou ou deixou que se inventasse tanto. Tenho pena, apenas, que a classe estudantil seja tão pouco esclarecida e desconhecedora das práticas e regras, da sua história e significado, para a viverem de forma mais consciente e crítica.
Onde estão os responsáveis, os veteranos, conselhos de praxe Dux e afins?
Que formação, idoneidade e competência têm para assumir essas funções?
Se não são solução, são parte, ou a grande parte, do problema e, por isso, como dizia uma colega minha, “quem não tem competência, não se estabelece”!
Se a cidade é incapaz de se colocar sob os auspícios de um organismo inter-academico, em termos de coordenação da praxe, pelo menos que cada instituição prime pela excelência em termos de praxis, de modo a evitar-se aquele ajuntamento que mais não é do que uma passerelle vergonhosa daquilo que ainda têm a distinta lata de chamar de praxe.

Desculpem o tom mais azedo, mas nestas coisas, entenda-se, de uma vez por todas, que não há meias medidas: ou é ou não é.
Diz o chavão que “Dura Praxis sed Praxis”, máxima que muitos, tolhidos intelectualmente, apenas ligam ao ritual de acolhimento dos caloiros, quando o significado se prende muito mais com a forma de se ser e estar, pois a praxe não é dura (como já o foi em tempos remotos), mas é firme, séria, primando pelo rigor. Esse é o sentido de Dura Praxis, reforçada pela adversativa “Sed Praxis” - nesse tal sentido de que não tem outra forma de o ser (porque, quando não, passa a outra coisa qualquer).

Não quero, com este artigo, deitar qualquer bréu sobre a festividade da Missa dos Finalistas – longe mim!
O facto de finalizar um curso, o estatuto de finalistas é motivo de gaúdio, júbilo, de festa rija e, numa época tão competitiva, de conjunctura económica e social tão apertada, temos mais é que dar os parabéns a toda esta gente, mesmo se paira no ar a incerteza de um futuro tão risonho quantodesejado, para a maioria deles, no mercado e trabalho.

Mas se, naturalmente, nos associamos à alegria daqueles que obtêm, após tanto esforço, o merecido canudo, tal não nos deve coibir de apontar o dedo e repudiar tudo quanto é perpetrado em nome da praxe e da tradição. ou desculpado só porque é festa!

Se certos senhores que se dizem “praxistas” (expressão que erradamente é tida como o acto de praxar) tivessem, isso sim, a lucidez de pensar em informar-se e formar-se, para depois informar e formar os outros (em vez de andarem a perseguir caloiros e em festiolas etílicas – resumindo nisso a sua acção), quem sabe as coisas não tivessem chegado a esse ponto.
É que certos indivíduos ainda não passaram da pré-primária da praxis, por isso só ainda sabem pintar e fazer desenhos nos caloiros ou brincar ao “faz de conta”.

A Praxe Académica, sua cultura e tradição, não é assunto de enclaves, mas diz respeito a todos, porque a praxe é um património nosso. E não falo, obviamente, dos pequenos aspectos que vão diferindo de instituição para instituição, sem se perder o essencial.
Neste caso, sobre capa e batina, pasta da praxe, grelo, fitas………. não há cá lugar a modas ou invenções, não há cá lugar a “praxe à moda de Lisboa” (ou qualquer outra localidade)!

Fica o reparo e o alerta, que espero possam servir de repto às forças vivas e sérias da academia lisboeta (muitos também ligados ao mester tunante), no intuito dela poder encetar uma mudança profícua que a dignifique, enquanto tal.

Os ditos líderes da praxe, responsáveis pela aplicação e respeito dos usos e costumes universitários, se não sabem, não podem ou não querem, que se demitam e possam dar lugar a quem assuma essa função com elevação, excelência, conhecimento e saber sobre praxe, para que lhe restituam todo o seu brilho e carisma, toda a sua significância (e possa assim ser vivida por todos).


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quinta-feira, maio 15, 2008

Notas de outrém sobre o blogue (III)

O Notas&Melodias continua a suscitar interesse em terras vizinhas, desta feita no losmermes's Fotolog:
Link directo: http://www.fotolog.com/losmermes

quarta-feira, maio 14, 2008

Notas sobre o VIII Centenário da Universidade de Salamanca

A perfazer oito séculos de existência, a Universidade de Salamanca, numa visão verdadeiramente universal ("Universitas"), abriu, e pediu, em colasboração com o M.I.E., a participação de todos os interessados, "urbi et orbi", para contribuírem com ideias e/ou materiais, no intuito de se cumprir o desejo de criar, em termos físicos, o Museu Internacional do Estudante, com especial incidência, neste apartado, sobre a história (e as muitas "estórias") desta distinta e secular instituição de ensino.

Nesse intuito, foi criado um site que dará cobertura ao evento e será a porta de entrada para todos quantos queiram, e possam, dar o seu contributo: http://centenario.usal.es/ , através de sugestões e mensagens diversas.

É possível votar em opiniões e sugestões já dadas, bem como sugerir outras: http://centenario.usal.es/index.php?option=com_content&task=view&id=59&Itemid=26 .

Uma iniciativa muito válida, numa altura onde a preservação e promoção da memória colectiva, dos valores da tradição académica, sua praxis e cultura, têm sido pouco estimados, respeitados e vividos, de facto.

Espero que tal possa sensibilizar a nossa massa estudantil e tunante para o dever de defender o seu património histórico, cultura e praxis académica/tunante, ao invés da contínua delapidação, abandono e desrespeito a que tem sido sujeitas por uma certa facção neo-inventora.

Parabéns ao amigo Tachi e a toda a equipa que leva por diante este projecto de cariz verdadeiramente universal.

Parabéns, obviamente, à Universidade de Salamanca por tudo quanto significa para a tradição universitária de ambos os lados da fronteira.

terça-feira, maio 13, 2008

Notas de outrém sobre o blogue (II)

O Notas&Melodias despertou a atenção do fórum TUNOS.COM (Fórum espanhol de cariz internacional sobre o fenómeno tunante):


Link directo para o tópico sobre o Notas&Melodias: http://www.tunos.com/foro/index.php?act=ST&f=7&t=6229&s=cbcf56adea45fde41612f6f4dbeb7031

domingo, maio 11, 2008

Notas sobre o Barrete do Traje Académico

"Bonete"

Exemplo do Barrete Redondo (Coimbra), ou "Bonete Redondo de Cuatro Picos" (Salamanca, Valladolid) usado por estudantes e lentes das universidades históricas da Península Ibérica, referido em estatutos universitários, literatura académica vária e iconografia, pelo menos desde o século XVI.
Os estudantes usavam-no em preto, sem cristas (estas mais comuns nos barretes quadrados), aplicando-lhe na parte superior central da copa uma borla curta ou pompom. Os lentes, conforme o grau académico, mantinham a base preta, mas aumentavam o tamanho da borla caso fossem bacharéis, licenciados, mestres ou doutores. As
borlas franjadas mais longas, a cair em cascata para a base do barrete, eram as doutorais. No auge do aparato permitiam a exibição de cores correspondentes a várias ciências.
Em Coimbra, este barrete foi mantido como uma das variantes do chapéu doutoral até à entrada do século XVIII, mas com a peculiaridade de os franjados atarracharem superiormente num florão de madeira forrado de passamanaria, ornato que se foi alteando a tal ponto que nas borlas redondas de Teologia da segunda metade do século XVII passou de florão médio a pega de tipo borla de reposteiro.
Este barrete deixou de usar-se em Coimbra desde o reinado de D. João V, tendo os estudantes abandonado o chapéu de alguidar (sombrero), o barrete redondo e o barrete quadrado em favor do vulgar gorro de pano dos estudantes sopistas e manteístas (num período em que se asseverava praticamente impossível conciliar o gorro em forma de manga com as cabeleiras postiças).
Em Salamanca, desde o último quartel do século XVIII que o "bonete" foi perdendo território para o tricórnio e para o bicórnio napoleónico de feltro preto. Nos anos de 1834-1835 o antigo traje académico estudantil espanhol foi oficialmente abolido, e com ele se perdeu o "bonete". A título de curiosidade, refira-se um exemplar avistado num elemento da Tuna Universitária de Santiago de Compostela pelo ano de 1993.
Em 1850 o governo espanhol aboliu os antigos trajes e insígnias dos docentes universitários, impondo como traje à escala nacional a toga preta de advogado, e a título de insígnias, o barrete preto de advogado revestido de borla compacta e franjados (praticamente idêntico ao dos advogados portugueses e membros do corpo docente da antiga Escola Médico-Cirúrgica do Porto). Em tempos de abolicionismo e de laicização, com os intelectuais universitários a oscilarem entre o paradigma vestimentário judiciário e a voga franco-napoleónica da casaca bordada/bicórnio/espada, o governo espanhol apenas autorizou reter do passado o anel doutoral e o capelo de capuz longo (muceta).


Texto retirado do blogue Virtual Memories

terça-feira, maio 06, 2008

Notas sobre o que queima a Queima

Época de loucura e exageros. É o momento que se vive um pouco por todo o país com as Queimas no seu auge.
Os estudantes soltam amarras e vêm para a rua festejar, mesmo que, ainda, antecipadamente, o final de mais um ano lectivo e, para alguns, o final dos seus estudos superiores.
É época de festa e, de facto, há motivos para festejar: a economia do país está em alta, o poder de compra está forte, as saídas profissionais estão descongestionadas e a sociedade vai ser capaz de absorver mais uns milhares de licenciados (nem que seja nuns biscates no Lidl, Continente ou afins)!!!!

É tradição, a tradição secular que manda, mas questiono-me sobre o modo como as queimas são, hoje em dia, percepcionadas e vividas. Época propícia à reivindicação, inconformismo e manifestação, acabamos por perceber que esta juventude está mais preocupada em divertir-se, beber até cair e exagerar no “carpe diem”, ao invés de, também, fazer destes eventos uma forma de contestar a actual situação em que vivemos e que, no caso destes, muito os irá afectar quando saírem para o mercado de trabalho (mesmo que com grandes médias).

Pegando na ideia do Ricardo Tavares, se antes existia uma forte identidade corporativista, que defendia o interesse dos estudantes, traduzido no F.R.A. (Frente Revolucionária Académica), onde a luta se fazia para preservar a cultura e tradição académica do aproveitamento político que delas queriam fazer os governantes, hoje em dia parecem-me os estudantes mais tolhidos intelectualmente – incapazes de perceber o aproveitamento que deles se faz, subordinado ao interesse económico.

Não posso aceitar que a tradição e praxis académica sejam, actualmente (e desde há uns anos a esta parte) movidas pelo quase exclusivo interesse económico. A praxe comercializou-se quase totalmente, obedecendo já não aos seus próprios preceitos, mas à programação dos investidores e organizadores de mega-eventos a metro, mais direccionados para um público anónimo do que para os estudantes, de facto.

No meio disto, dizer, pois, que a Queima é, infelizmente, um evento já não para estudantes, mas onde estes são uma parte menorizada, uma desculpa para atingir outro público mais vasto, para atingir metas financeiras e lucrar à custa daquilo que dizem ser uma festa académica.

Qual a posição dos organismo de praxe, dos Conselhos de Veteranos, daqueles que devem assumir a primeira linha de defesa e preservação da cultura e tradição?
Pelo que vamos vendo, a sua ausência, e comprometedor silêncio, parecem estar argumentados no já comum aliciamento destes, num acto que roça o “suborno”, onde os responsáveis pela praxe recebem regalias por parte das organizações (bilhetes à borla, livre-trânsitos - isto quando não são directamente remunerados) para se arregimentarem do lado do interesse comercial e económico em que se travestiram as Queimas. Parece ser assim, pelo menos assim dá a entender este crescente desvirtuar da Semana Académica, onde os actos puramente praxísticos são uma gota de água no oceano da programação e oferta deste eventos ditos académicos.

Nisto tudo, bem que é de perguntar para que servem as tais Federações Académicas. Pouco mais lhe vejo trabalho do que a organização da Semana do Caloiro e Queima das Fitas, resumidas unicamente ao papel de "fazedores de eventos", empresas especializadas em festas.
O carácter abengado e a gratuidade já eram há muito, obviamente.
Se isso é defender o interesse dos estudantes, se isso é associativismo estudantil....vou ali e já venho!

A Queima é, hoje em dia, um evento já não para o estudante, como alvo, mas para a cidade ou o país, onde importa é lucrar e ter casa cheia, onde os concertos XPTO e as discotecas foram abafando as expressões mais simples (mas mais genuínas) da vivência académica.

A população universitária, essa, levada por uma certa ignorância e alheamento, assume o papel de populaça anónima (mesmo se muitos, nessa altura, assumem, pontualmente para "inglês ver", o papel de académicos e tiram, finalmente, o traje do armário), na onda de uma cultura pimba onde “Maria vai com as outras” e importa mais parecer do que ser.

A falta de intervenção por parte dos organismos de praxe, na promoção de eventos que formem e unam os estudantes em torno da sua cultura e tradição, leva a que essa mesma cultura e tradição sejam, gradualmente, substituídas por manifestações que nada têm a ver com praxe. Aliás, basta ver o afunilado entendimento geral que se tem de praxe, sendo assustadora a ignorância que os própriso estudantes têm desta, do seu significado e vivência.

A Queima é, também, hoje em dia, olhada como uma competição, onde importa é fazer melhor que a Queima da academia X, Y ou Z, gastando fortunas (e mesmo assim lucrando) que tanta falta fazem a outras actividades e grupos académicos, chegando mesmo a haver uma espécie de espionagem inter-cidades para calendarizar as datas dos eventos nos melhores dias.

É a era do Queimódromo, onde tudo se concentra, abandonando as ruas e as praças, tudo para satisfazer as necessidades dos grandes concertos e das multidões que pouco se importam com o que se está a festejar e se estão borrifando para a tradição.

Não estou contra os concertos, pois há que ir ao encontro dos gostos dos estudantes, mas enoja-me ver cartazes onde ¾ dos mesmos são concertos e onde as actividades realmente académicas quase passam despercebidas. Revolta-me ver que as programações visam o grande público e não os estudantes em si, relegando-os para segundo plano, reduzindo-os e servindo-se deles e da tradição como desculpa para fazer dinheiro, delapidando a praxe e colocando no fundo da hierarquia de prioridades, as actividades de foro estudantil e académico.

Lamento que os nossos jovens, que os organismos que regem a praxe, se fiquem, se calem e sejam cúmplices deste atentado às nossas tradições. Lamento que não haja quem tenha coragem para dizer “Basta!” e assuma a necessidade de devolver aos estudantes a sua festa, a sua Queima, mesmo que isso signifique uma simplificação programática e o deixar de encaixar umas milenas de euros (que só favorecem os organizadores e raramente quem precisa par a investir no que é, realmente, importante).

Nunca vi uma geração tão passiva e acomodada, tão pouco reivindicativa e desprovida grandes causas por que lutar - o que não auspicia nada de bom e não abona a favor da futura elite e quadros superiores do país!