terça-feira, junho 26, 2012

Traçar de Mitos

Este artigo é sobre uma cerimónia que foi recentemente inventada (nem 15 anos terá sequer) decorrente de um erro grave e doloso: que o caloiro não pode trajar.

Fique claro: o caloiro pode trajar, logo que se matricule no Ensino Superior. Qualquer determinação em contrário atenta à Tradição (que está acima de "tradições de 3/4 de mês").

As provas cabais e documentais sobre isso, podem ser AQUI encontradas.

Eu próprio fui assim doutrinado no passado (que os caloiros não trajavam). Mas o simples facto de ouvir quem disesse que tal não tinha razão de ser, que Coimbra (Alma Mater) nunca tal impusera (porque nunca fora tradição ou regra) levou-me desde cedo a colocar em causa as doutrinas avulsas e procurar apurar as coisas.

Se no passado não havia o acesso facilitado à informação, hoje parece-me não haver desculpa, embora saibamos que os meios informáticos também ajudaram a que mitos e erros fossem mais amplamente divulgados.

Nunca percebi essa fixação do traçar a capa. Aceito que alguns queiram valorizar o momento em que um caloiro traja pela primeira vez, mas haja inteligência para não ir além disso.

O baptismo/imposição da capa é bonito, é simbólico, o padrinho impõe a capa simbolicamente........ tudo muito certo e nada a obstar e é precisamente essa a origem desta cerimónia:  a imposição das capas (e não o traçar das mesmas) .
O problema é quando se ouve, em mais do que uma academia (é passar, por exemplo, os olhos em alguns fóruns) o seguinte (e similares):

- "Só podes começar a traçar a capa a partir da segunda matrícula" 
- "Não podes traçar a capa enquanto alguém não ta traçar na cerimónia"

Não há outro modo de o dizer: é de uma estupidez que nos leva a perguntar como é que esta gente anda no ensino superior.
Qualquer dia arranjam algo para o nº de furos do cinto das calças ou para o apertar do fecho da saia, ou ainda paa a colocação do primeiro emblema ou do primeiro pin. Haja pachorra!


As cerimónias ditas do "traçar da capa" são invenções recentes que, na sua quase maioria, nem existiam há 15 anos e que são uma deturpação daquilo queb originalmente se pretendia evocar: a imposição e baptismo da capa (mesmo que já tivesse sido usada).
Foram uma invenção criada para assinalar e festejar o facto de muitos caloiros trajarem pela 1ª vez na sua 1ª serenata da Queima (motivado pela estupidez de dizer-se que os caloiros não trajam).

Em rigor, no início (e vejam como rapidamente dão cabo das coisas) estes eventos nem sequer eram para "traçar as capas", mas sim para as benzer, seguindo-se depois a sua imposição pelo padrinho/madrinha.

Com efeito, tal tradição da bênção das capas, já vem de longe. Em Coimbra, conforme nos relata António Nunes, [Havia a tradição dos padrinhos dos caloiros lhes "baptizarem" a capa e o gorro, atirando-os ao chão, pisando-os e salpicando-os com gotas de vinho, costume que ainda se praticava na década de 1980] in Identidade(s) e moda, Percursos contemporâneos da capa e batina e da sinsígnias dos conimbricenses. Bubok, 2013, p.73, nota n.º 237.


Por se tratar de um momento solene, a capa era colocada descaída e nunca traçada.
O traçar, esse, ocorria já só no local da Serenata. Aí sim, se preciso fosse, e porque o caloiro muitas vezes ainda não dominava o gesto técnico de traçar a capa, era ajudado. Mas era judado pelos colegas e não necessariamente pelo padrinho ou madrinha.


Em casas onde permitem (e bem) aos caloiros trajar, vêm depois com a palermice de os proibir de traçarem a capa. Haja pachorra para tanta acefalia.

O traçar, em si, não tem significado rigorosamente nenhum. A imposição da capa ou o seu baptismo, aí sim, poderá reflectir algum simbolismo e solenidade.
Traça-se a capa como se abotoa um botão: quando dá jeito e é preciso, seja caloiro ou veterano, mas nunca numa cerimónia, onde a capa se usa descaída pelos ombros.


Ninguém dita quem pode, ou não, traçar a capa. Qualquer pesoa, seja caloiro ou veterano, traça quando bem lhe apetecer, para além da Serenata Monumental ou da Praxe em Trupe (excepto os tunos quando em serenata ou grupos de fado -  e é opcional) .

Em mais nenhum momento é preciso traçar a capa , nem sequer para "praxar" (outro mito estúpido e sem fundamento histórico).

Pare-se lá, pois, de dar corda a mais um mito.
É disso que muitas vezes falo quando critico os códigos (os ditos "codigozecos") da quase maioria das casas: que estão cheios de "lixo", de coisas que não têm fundamento histórico, que são artificialismos, invenções e que, muitas vezes, colidem com a própria tradição (como sucede com o proibir de relógios de pulso ou de lavar a capa).
Estão tão cheios de picuinhices, de papismos e "paneleirices" que complicam o que em Praxe sempre se quis simples e sóbrio (ao contrário de lapelas à general, de mangas arregaçadas para não se ver o branco e outras palermices do género).

Entretanto, também referir que se há cerimónias muito engraçadas, feitas com seriedade (e apenas se condena aqui proibirem caloiros de trajar ou, então, de traçarem a sua capa - isso sim uma aberração), e que são importantes, outras há que merecem total repúdio, onde praxam os estudantes sem nenhum motivo, quando não tem nenhum sentido ou fundamento o gozo ao caloiro nessa altura:





Por hoje é tudo.
Num próximo artigo, trataremos de mais umas quantas aberrações e invenções palermoides.
Veremos a questão do estar em Praxe, de estudantes que são caloiros N vezes, de Comissões de Praxe, Inscrições na Praxe, Regime de Faltas, Ser Praxado para estar na Praxe ou usar Traje.
Como podem ver, são N conceitos estapafúrdios e sem nexo que merecerão esclarecimento.

21 comentários:

Anónimo disse...

Caro WB, sigo atentamente o seu blog e queria dar-lhe os parabéns por mais um bom artigo e uma boa chamada de atenção.

Já tive alguns problemas com idiotas acima das 5 matrículas (que se intitulam de veteranos, mas que sabem tanto ou menos de praxe como um doutor de 2 matrículas), precisamente por ter a capa traçada durante um gozo ao caloiro.
Puseram os caloiros de orelhas tapadas, vulgo "cascados", como se costuma dizer em praxe na minha faculdade, e berraram a plenos pulmões para destraçarmos todos as capas. Eu fui o único que me recusei. Queriam sancionar-me por isso, e eu educadamente apenas disse "foi-me ensinado que a capa traça-se em três ocasiões: em serenatas, em sanções, e sempre que bem me apetecer". O idiota, já quase a espumar-se da boca lá me chamou à parte para poderem prosseguir com o gozo, e continuou a dizer bacoradas como: "eu sei que podes traçar a capa quando quiseres, só que por respeito pedes ao mais velho, e se ele te disser para destraçar tu destraças, se ele te mandar traçar tu traças". Deixei-o continuar com o alarido todo e apenas lhe disse que se me quisesse sancionar, que fosse bater à porta do CV e que trouxesse os velhos todos para me raparem, mas que com ele não ia a lado nenhum. Calou-se e até hoje não lhe dirijo mais a palavra nem ele a mim.

Isto aconteceu na faculdade que se auto-intitula como a "Mãe" da Praxe da Academia do Porto. E cujo estudante mais velho, é uma figura bem conhecida da Academia, se é que me faço entender. Tenho a perfeita noção de que na minha faculdade ainda existe muito do que se fazia antigamente, muita Praxe com P maiúsculo. Mas situações destas, bem como muitas outras, fazem-me ter vergonha de pertencer à Praxe da minha casa.

Finalizo com um pedido... que esse artigo sobre Comissões de Praxe venha rapidamente. Seja ESEIG, seja qual for a instituição da Academia do Porto, já me convenci a mim mesmo que as Comissões são das maiores invenções desastrosas, e dos maiores atentados à Praxe. Desde atropelos à hierarquia, abusos de poder (concentrado num individuo, e repartido pelos restantes membros da comissão), pessoas que chegam onde chegam por (perdoe-me a expressão) lamberem o rabo aos velhotes. Pessoas essas que fazem com que o gozo ao caloiro pareça uma missa, ou então um circo autêntico, e cujo conhecimento de Praxe é nulo.

Abraço

J.Pierre Silva disse...

Caro anónimo (pena não se identificar ou identificar a sua casa),

O que relata é o "pão-noso de cada dia", infelizmente.
Não deixe de visitar o fórum e blogue do "Praxe Porto" (também no FB), pois sendo vocé do Porto, aí encontrará um espaço onde a Praxe é tratada a sério e por gente que sabe do assunto.

Quanto ao resto, apenas sugerir que não desista e que vá criando o hábito de, com outros colegas, ir debatendo estas questões no intuito de, logo que possível, serem vocés a orientar as coisas e a preocuparem-se em formar, de facto, os colegas mais novos.

Sobre outros mitos na Praxe, é escolher da lista da página principal (coluna do lado esquerdo). Partilhe o link do N&M (e Praxe Porto)com os seus colegas, com os tais veteranos e com todos os que querem ser (pous e dizem ser) praxistas.

Abraço

Abraço.

Anónimo disse...

e tudo muito bonito mas tal como disse ensinou assim...ou seja akilo que se esta a passar tambem tem o seu cunho...e tal como disse neste seu artigo "Não há outro modo de o dizer: é de uma estupidez que nos leva a perguntar como é que esta gente anda no ensino superior." permita-me dizer que concordo perfeitamente mas mais importante que isso e completando "como e que esta gente andou no ensino supeior" sim porque nos somos um reflexo dos nossos trajados ja que sao os trajados que fazem os caloiros! agora tenho e que lhe perguntar como se quebram estas ditas tradiçoes de um dia para o outro quando as pessoas que teem mais experiencia foram ensinadas neste marasmo criado por geraçoes anteriores e que por isso nao se identificam com o "correcto", por nao o conhecerem, nao o terem vivenciado nem crescido com ele. Sugere que se irradiquem estas pessoas e que se comece do zero?e complicado...ista mudança nunca podera ser radical nem com este tipo de discurso porque afinal de contas a culpa e nossa relativamente as proximas geraçoes mas quem errou conosco foram as anteriores da qual voce tambem faz parte.

PS:depois da merda estar feita nao se pode carregar num botao e desfazer o que foi feito...eu tambem gostava que assim fosse mas nao e

Anónimo disse...

Ora ca esta algo que ninguem diz por aqui: "...ista mudança nunca podera ser radical nem com este tipo de discurso porque afinal de contas a culpa e nossa relativamente as proximas geraçoes mas quem errou conosco foram as anteriores da qual voce tambem faz parte."

é sem duvida de louvar este e outros blogues, que têem o intuito de acrescentar valor á tradição académica, so tenho pena que se use um tipo de discurso,por vezes nao muito correcto, querendo "julgar" e tirar juizos de valor de pessoas, quando muitas delas apenas ensinam o que lhes ensinaram. pergunto onde andavam todos estes senhores sábios de praxe, tuna e tradiçao academica, que deixaram cair a mensagem correcta e que agora criticam quem esta no activo.
se as coisas estão mal então a culpa tambem é "vossa".

continuação de um bom trabalho.

Saudaçoes Académicas

J.Pierre Silva disse...

Este blogue não tem por função acrescentar valor à tradição, mas dá-la a conhecer, de modo a contribuir para a sua preservação e promoção, contra os contínuos atropelos de que é alvo e a que alguns querem igualmente chamar de tradição, quando se trata antes de "tra(d)ição".

Os juízos de valor fazem-se quando as pessoas se isentam de pesquisar e de se informarem, reproduzindo e seguindo o "ouvi dizer".

Os ditos "senhor sábios" andaram,num primeiro tempo, meu caro anónimo, a a reabilitar as tradições académicas, a serem os protagonistas.
Fizemos muito e por isso também muito errámos. Excedemos em voluntarismo o que, ali ou acolá, não teríamos em conhecimento, nomeadamente por falta de fontes informativas que fossem acessíveis (não havia Net, nem telemóveis...e muitas obras e estuds sobre Praxe nem existiam ainda).

Mas entre aquilo que deixámos e o que hoje se verifica vai um fosso enorme. Muito do que deixámos, estava próximo ou fiel às origens, fosse na base do código de Coimbra dos anos 50, fosse no Palito Métrico, Memórias do Mata Carochas, etc. como documentos que, ainda hoje, são basilares.

O problema, que também nest eblogue foi já denunciado, foi quando a febre bairrista levou á criação de "novos" trajes "académicos", cuja validade históricoa e social é altamente discutível e que assentou num erro crasso: achar-se que a cap ae batina era DE Coimbra, coisa que é falso! Atrás disso vieram N de normativos e invenções, variações e afins....numa bola de neve perniciosa.

Õ ero, dos que nestes últimso anos estão no activo foi nunca terem perguntado o porqué das coisas.
Hojehá informação, estudos, publicações (que antes não havia9, e contudo, perante o denunciar dos erro sod passado, continua-se a perpetuá-los como virtudes ancestrais.

O que alguns nos dizem é simples: "Não continuem ou repitam os nosso erros, mas antes copiem os bons exemplos e boas práticas". O que não querem perceber é que nós, mais velhos (os carolas que ainda se interessam por isto), estão aqui para mostrar que há caminhos que não devem ser percorridos, sob pena de delapidarem definitivamente a Tradição.
O que os actuais estudantes devem fazer é questionar, redescobrir e deixarem-se de preguiças e teses avulsas ficcionadas, e procurarem conhecer e entender melhor aquilo a que dizem pertencer e que dizem praticar.


Quem, entre aquilo que deixámos e o que hoje temos, entretanto, teve a presunção de tanto inventar?
Ensinaram-me a saber valorizar o legado recebido, a estimá-lo e entregá-lo tão ou mais rico do que o recebera.

Critica-se quem, hoje, tem à mão muitas mais ferramentas para se munir de conhecimento e te ruma prática consentânea; quem tem a sorte (que não tivemos) de ter já bastante gente que investigou estes fenómenos e publica para todos poderem aceder a esse saber.


Ora nem todos são bons ou maus exemplos, Nunca se generalizou gratuitamente neste blogue, mas quando este blogue critica, fá-lo a quem a carapuça serve e por vezes até o faz directamente (dando nome às coisas, com toda a frontalidade - algo que muitos também não gostam).
Quem quiser aprender e retirar algo positivo neste blogue, ele aí está para o efeito.
Ele não deixará de apontar dedos, da mesma forma que não se ficando por aí, apresenta dados, informações, saberes.
Ao contrário de muitos dos seus delatores, o N&M apresenta trabalho, conhecimentos, informações, não se ficando por críticas gratuitas.

Não culpo os meus pais ou profs. por não saber a tabuada toda de cor.
Poderia alegar que não insistiram o suficiente, não me ensinaram bem, etc..... posso, quando quero, arranjar mil desculpas para sacudir a água do capote, mas se quiser ser honesto, apenas me posso culpar a mim por falta de empenho e esforço nesse apartado.

Anónimo disse...

Caro WB
“Este blogue não tem por função acrescentar valor à tradição” acho que me fiz entender a pouco, no entanto obrigado por ter completado, pois é exactamente isso que penso.
Em relação aos juízos de valor, a questão já e um pouco diferente, pois tenho assistido aqui alguns ataques “pessoais” que a meu ver pouco ou nada acrescentam a esta vossa iniciativa. Mas isto seriam horas de conversa/escrita 
Entrei no ensino superior na década de 90 e já vi muita coisa durante estes anos. Umas boas outras menos boas e outras até que não lembra o menino jesus.
A meu ver um dos grandes problemas para a existência de um fosso entre as ultimas 2 ou 3 décadas, é a massificação.
Hoje em dia a Academia do Porto tem 5 ou 7 vezes mais Alunos/Praxistas/Tunos do que por exemplo na década de 90 e isso sem duvida acabou por prejudicar a Tradição. É sabido que muita da tradição passa de boca em boca e num grupo mais restrito essa informação pouco ou nada perde, mas em massas o mesmo já não acontece. Já diz o povo: A cada conto acrescenta-se sempre um ponto. 
Concordo que deveria haver mais interesse em querer saber mais, por parte de quem gosta da tradição académica, mas nem todos somos iguais.
Ainda vou tendo alguma participação “activa” na praxe da academia do porto e tento sempre dar o meu modesto contributo, principalmente quando ouço ou vejo coisas que não correspondem á realidade, autênticos “mitos urbanos” que sinceramente não sei onde os vão buscar 
Em relação ao apontar o Dedo, so tenho um reparo a fazer. Há formas e formas de o fazer, no entanto sinceramente, caindo no risco de estar a interpretar de uma forma errada, parece-me que aqui e noutros fóruns/blogues que vou tentando acompanhar, se tem apontado o dedo de forma um pouco gratuita e muitas vezes injusta/errada, parecendo mais quezílias pessoais que outra coisa (ao dizer isto, não me estou a cingir aos administradores dos sítios, mas também a alguns participantes), um dos exemplos é este post: Notas a um Cortejo sem Tradição (Parte II) .
Mais uma vez bom trabalho, tenho sem dúvida aprendido mais um pouco, ao visitar o vosso blogue (nem que sejam 20m perdidos no trabalho. hehehehehehe).
Saudaçoes Academicas.

Anónimo disse...

Caro WB

Já há algum tempo que ocasionalmente leio as suas publicações neste blog, visto ser um tema que me interessa, já que continuo a ser um interveniente activo na Praxe da Academia do Porto, há bastantes anos.

Se bem que alguns artigos (ou partes) são interessantes e coerentes com o que foi e com o que é a Praxe Académica, outros há que demonstram falta de informação complementar aos factos (às vezes, até dados falsos) e que provoca às vezes uma má interpretação do tema abordado. Penso que também seria de evitar o transparecer do seu permanente mau estar (incluindo o uso de termos desagradáveis e ofensivos) com alguns intervenientes que lideram no dia a dia o desenrolar da Praxe. Acho que o blog e o respeito pelos seus leitores só ganhariam com isto!

É certo que a tradição é para ser passada de geração em geração, mas também é certo que nada é imutável, bastando ver que desde a remota existência das tradições académicas (Praxe), tanta coisa foi sofrendo alterações. Penso que devemos ter mais bom senso para compreender o que pode mudar/evoluir, sem “ferir” o que realmente deve ser conservado no seu estado o mais original possível. Que estamos cheios de maus exemplos à nossa volta, é um facto, mas também é verdade que existe um grande esforço para controlar tudo isto, algo que nem sempre é fácil, como deve entender…

Penso que o seu afastamento da realidade que temos a nível da Praxe Académica, não o ajuda a construir comentários assertivos sobre alguns assuntos. Porque não largar por vezes os seus livros e viver também em solo académico? Aí iria ver o empenho de muita gente que tenta preservar as tradições académicas, e o seu contributo para melhorar o que tanto critica, seria mais eficaz. O caminho que escolhi para mim foi continuar a viver sempre a Praxe, a estar, criticar, fazer acontecer, o que me for possível. Recomendo!

Relativamente a este artigo ao qual estou a comentar, e assim como a outros, gostaria de transmitir a minha opinião mais detalhada sobre os assuntos específicos, mas visto desconhecer a sua identidade e o seu percurso académico, não sei como devo abordar os meus comentários, de forma a que os consiga entender na sua plenitude.

Cumprimentos

V.R.

J.Pierre Silva disse...

Caro V.R.

A resposta vai em 2 comentários (que não cabe tudo num).

PARTE I

Desde já agradecer a sua participação e interesse neste espaço.
Percebo, pelas suas palavras, que ainda se mantém muito ligado à Praxe da sua instituição, significando tal que já não é estudante É isso?
Gostava de saber em que moldes consegue isso, mas neste caso sugiro que possamos conversar pessoalmente via mail (disponível no meu perfil) ou via mensagem no Facebook.

A haver dados falsos nos artigos do N&M, queira fazer o favor de os apontar e contrapor com os dados que julga serem os correctos. O blogue está aberto ao contraditório.
A haver falta de dados complementares, diga quais e onde.
Não detenho a dom da omnisciência, mas tudo quanto público é fruto de investigação aliada à experiência, por isso sempre sujeito a novas descobertas documentais ou complementaridade de dados.
Não há nenhum mal-estar, meu caro, mas apenas alguma falta de pachorra para assistir a certas coisas, nomeadamente quando já não há a desculpa de falta de informação disponível. Nem mesmo quando este espaço recebe posts ou mails com insultos pejados de palavrões, isso faz vacilar a determinação de quem prefere “cortar a direito”.
Os leitores preferem ler preto no branco do que se andar com rodeios. Certos “melindrados” só ficam “indignados” porque se lhes “descobriu a careca” (como diz o povo), alegando depois, em autocomiseração, que foram “atacados”.
Todos os leitores são respeitados, mas ninguém está isento ao contraditório, nem mesmo este blogue, desde que tal se faça com base em factos, em dados e não em opiniões desprovidas de estudo, saber e argumentação sólida.


Nada é imutável, mas coisas há que não são passíveis de serem travestidas ou deturpadas.
Você diz, e muito bem, que não se deve “ferir” o que deve ser conservado, ora isso só pode suceder quando as pessoas forem confrontadas com a informação devida, quase sempre a colidir com mitos elevados a altares de dogma. E é isso que faz espernear boa gente: a dificuldade em aceitarem que muito daquilo que para elas é quase “sagrado”, pode afinal não o ser, levando a que, quase sempre, a reacção seja sempre a recusa, a quezília ou mesmo a afronta.
Se existe esforço para contrariar isso, acredito que sim, mas isso não é visível, e é apenas uma excepção naquilo que hoje foi esta massificação do “à vontade do freguês”.
Aliás, o N&M recebe dezenas e dezenas de mails com pedidos de ajuda, esclarecimento, pedidos de aconselhamento, declarações de apoio de gente que quer mudar as coisas….. mas muitas vezes tudo esbarra em cúpulas entronizadas ad aeternum.

O N&M não está afastado da realidade. Tem até a vantagem de poder contactar com várias realidades geográficas, através de testemunhos que recebe, do que centenas de estudantes exprimem em fóruns dedicados a estes assuntos, do intercâmbio e proximidade com outros espaços (como o Praxe Porto, pro exemplo), para além da vasta experiência vivida na primeira pessoa e na observação cíclica que faz de várias actividades de Praxe a que assiste.
Não precisamos de voltar ao cargo de Dux, que já desempenhámos, de voltar a fazer parte de um Conelho de praxe ou de uma Trupe, de reler mais N códigos ou assitir a mais N Semanas do Caloiro, Queimas e cortejos para saber “como páram as modas”.

J.Pierre Silva disse...

PARTE II (continuação)

Os “livros” (leia-se documentos, teses, livros, estudos) que tanto parece “desdenhar” são precisamente repositório de uma experiência e saber que deve ser disponibilizado e dado a conhecer. Foi a falta da sua leitura e divulgação que levou a tanto desvirtuar.
Vejo muito boa gente (muita gente mesmo) cheia de boas intenções, mas muitas vezes sobrando onde falta formação, muitas vezes multiplicando em garra e vontade ou que falta em saber. Ora é preciso saber e conhecer, para bem se exercer, e hoje a informação está à “à mão de semear”.
O papel do N&M é este que tem. Não se substitui a ninguém, apenas ocupa um espaço que, até à bem pouco tempo (para além do “Porto Académico”, “Virtual Memories”, “Guitarras de Coimbra” I a VI, “Praxe Porto” (blogue e fórum), “As Minhas Aventuras na Tunolândia” ) ninguém ocupava, nem na Net e muito menos no ”solo académico”. Aliás, no terreno não se conhecem quaisquer iniciativas, de facto, que visem a efectiva discussão e esclarecimento dos assuntos que vão sendo elencados e tratados.

Comente como bem lhe aprouver, pois que o N&M está aberto a contributos que possam enriquecer os leitores.
Não é o emissário ou autor que deve definir a validade do conteúdo (quando muito a forma). Factos são factos independentemente de quem os apresenta.
Já as opiniões são sempre discutíveis quando não passam disso. Se isso lhe servir de referência, apenas dizer que o N&M assenta numa experiência aliada à investigação que soma mais de 2 décadas.

Abraço

Anónimo disse...

Olá boa noite. Começo por dizer que sou do Porto e que vou para o 4º ano. Eu acho que a praxe tem sofrido tantos ataques a partir de dentro, de tantas pessoas que não sabem nada mas que mandam só porque são duma comissão de praxe que é bom haver pessoas como o WB a dizer as coisas sem papas na língua e que ao menos percebe do assunto.
Anda-se sempre a dizer que as coisas não andam bem e que há pessoas que já deviam era ter deixado a praxe para quem quer fazer alguma coisa de jeito mas nunca se diz exactamente o que está mal, o que é mal feito e quem o faz. Tendemos a generalizar a dizer que há pessoas que fazem e acontecem, coisas sem sentido, que se ensinam coisas sem jeito mas quase ninguém tem a coragem de fazer o que o WB faz que é dizer o que está mal e explicar porquê. E uma pessoa aprende aqui o que ninguém nos ensina na praxe nem veteranos, nem Duxes nem porra nenhuma!E andam gajos a dizer que continuam ligados à Praxe mesmo depois de terem acabado. Continuam a fazer o quê se não fazem nem fizeram nada?
Que ele ás vezes é mais duro é, mas ele faz o que muitos de nós tem vontade de fazer quando assiste e ouve certas coisas. Não sejamos por isso hipócritas. Nenhum outro blogue ensinou tanto e luta tanto pela Praxe correcta e verdadeira como o notas&melodias. Só se incomoda quem teme, porque quem não deve não teme.
Parabéns ao WB que um dia gostava de conhecer pessoalmente (e não sou só eu que somos muitos os que apreciam o seu trabalho).

Carolina Martins

Anónimo disse...

Muito Boa noite,

Não tendo encontrado nenhum post sobre o porquê de a capa se usar sobre o ombro esquerdo, e não sobre o direito, gostava de lhe solicitar um esclarecimento sobre este tema, ou uma indicação de um post onde eu possa ficar esclarecido. Sendo eu ainda uma pessoa interessada nestas matérias, gostava de saber como posso entrar em contacto com voces por mensagem privada. Parabéns pelo trabalho, e aguardo resposta
Cumprimentos, J3

J.Pierre Silva disse...

O uso da capa num dos ombros é mera convenção. Provavelmente o uso no ombro esquerdo se deva a motivos de ordem prática: a maioria das pessoas eram/são destras, pelo que a capa no ombro esquerdo deixaria livre a mão/braço direito.
Não vejo qualquer outro motivo (muito menos qualquer conotação política ou mística).
Eu usei capa no ombro direito porque me ajeitava melhor assim.

Para nos contactar, use o nosso mail:

notasemelodias@gmail.com

Espero que a resposta tenha sido esclarecedora.

Abraço

BlueMan disse...

Será importante verificar que nem todas as Instituições que defendem o Traçar da Capa como um dos mais importantes eventos de Praxe concorda com a ideia de que ninguém pode trajar antes desse dia.

O Traçar da Capa não impede o uso do traje previamente à sua realização (Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa) servindo sim como celebração do uso do traje e da admissão de novos direitos aos caloiros que o envergam! (Direito de participar nos rituais de iniciação dos caloiros do ano seguinte)

E esses mesmos rituais tão mal vistos na nossa sociedade actual também não são igualmente imundos, e desprovidos de sentido em todas as instituições.

É bom não generalizar!

J.Pierre Silva disse...

Caro BlueMan,

Não se generaliza por generalizar, mas veja que onde não existe um equívoco, instala-se logo outro. Se não é sobr eo caloiro não poder trajar, passa a ser sobre o "traçar" significar X ou Y.

É certo que nem todas as casas proibirão ou dirão que o caloiro não pode trajar antes desse dia (quem o diz é parvo e ignorante), mas, no caso que relata, atribui a essa cerimónia algo que também não lhe pode ser colado: o adquirir de novos direitos em Praxe.

Não é o que a secular Tradição consagrou (e reitero que tradição académica não é aquela que existe há 15 ou 20 anos. Uma tradição, para o ser, pressupõe outros pressupostos, para não se cair na incongruência de se falar em “novas” tradições, num verdadeiro oxímero patético, num paradoxo totalmente ridículo).
Além disso, "tradições" baseadas em erros, equívocos e em invenções a metro, sem qualquer fundamentação ou precedente (ou que então colidem ou delapidam) não têm qualquer legitimidade para serem consideradas.

A Queima das Fitas marca a emancipação do Caloiro. A partir da Queima (do seu final), o Caloiro entra numa espécie de "limbo", torna-se pastrano (não pode praxar, mas já está a salvo de praxes).
No ano seguinte já poderá usar pasta e, se existirem, insígnias de segundanista, mas não poderá exercer gozo aos caloiros, embora deles mereça o respeito devido.

É essa a tradição. Está tudo inventado há muito, fixado e consagrado pelo uso reiterado e cristalizado.
Não vejo, daí, pertinência em desvirtuar e conferir ao “traçar da capa” uma função que não tem de ter sequer.

Uma grande academia não se vê pela folclore que promove, mas pela forma como conhece e respeita atradição e, também, pelo modo como sabe adoptar/adaptar a tradição, sem a descaracterizar, delapidar ou desvirtuar.

Uma coisa é mudar os estofos do carro, dar-lhe um apntura de outra cor, meter-lhe uma aparelhagem sonora mais avançada..... outra é trocar-lhe o motor e a carroçaria e pretender que é o mesmo carro.

E o que mais me surpreende é que essas coisas são feitas com a conivência de organismso de praxe, o que apenas prova a incompetência e iliteracia reinante nesses grupos parece ser condição sine qua non para ocupar funções.


Abraço

Eduardo disse...

Em resposta ao Anónimo que postou em 11 de Julho de 2011 o seguinte:

"e tudo muito bonito mas tal como disse ensinou assim...ou seja akilo que se esta a passar tambem tem o seu cunho...e tal como disse neste seu artigo "Não há outro modo de o dizer: é de uma estupidez que nos leva a perguntar como é que esta gente anda no ensino superior." permita-me dizer que concordo perfeitamente mas mais importante que isso e completando "como e que esta gente andou no ensino supeior" sim porque nos somos um reflexo dos nossos trajados ja que sao os trajados que fazem os caloiros!"

Admitamos que o WB tenha passado coisas erradas - como ele mesmo admitiu. No entanto, ele fez o que os que vieram a seguir não fizeram nem querem fazer: 1. pôr em causa se o que fez/disse estava correcto, o que o levou a 2. investigar, aprofundar, estudar e - por fim - 3. partilhar o que aprendeu, investigou, comparou e concluiu, indicando onde, como, quando e porquê.

Estes aspectos distinguem-no radicalmente de outros: admitir que pode estar errado - coisa que à maioria dos "trajados" (como lhe chama) nem sequer passa pela cabeça... Quantos dos "trajados" que conhece admitem estar errados?

Mesmo que as críticas que o WB faz possam ser (e são, por vezes) feitas em termos duros, esse facto, sendo criticável, não retira razão aos argumentos que ele apresenta. Podem retirar a quem os lê vontade de os "ouvir", mas não afectam a razão de fundo.

E continua o caro Anónimo da seguinte maneira:

"agora tenho e que lhe perguntar como se quebram estas ditas tradiçoes de um dia para o outro quando as pessoas que teem mais experiencia foram ensinadas neste marasmo criado por geraçoes anteriores e que por isso nao se identificam com o "correcto", por nao o conhecerem, nao o terem vivenciado nem crescido com ele. Sugere que se irradiquem estas pessoas e que se comece do zero? e complicado...ista mudança nunca podera ser radical nem com este tipo de discurso porque afinal de contas a culpa e nossa relativamente as proximas geraçoes mas quem errou conosco foram as anteriores da qual voce tambem faz parte."

Como se quebram essas tradições? Simples: as pessoas ou a) percebem que não têm razão, ou b) não percebem ou, ainda, c) não querem perceber - certo?

Se vêem que o que andam a dizer/fazer está errado, pura e simplesmente deixam de fazer e passam a fazer o que está correcto.

Se não percebem e acham que o que estão a fazer está correcto, mais não têm do que apresentar-lhe a si (ou seja a quem for) as provas documentais (ou outras) que justificam o que estão a fazer/dizer. Ora pense lá um pouco... qual é, regra geral, a justificação que lhe dão quando você pergunta porquê ou põe em causa um certo aspecto da praxe? Eu respondo: "A Praxe não se estuda, não se discute: vive-se e respeita-se", quando não é um "Porque é assim" ou "Porque sempre foi assim", etc.

(continua)

Eduardo disse...

(continuação)

Isto é atitude de quem não quer perceber - 99% dos casos. E como a quem não quer perceber nem todos os argumentos do mundo valem, de facto com esses não há mesmo nada a fazer.

E agora cabe perguntar: quem é, afinal, que tem a mania de que sabe tudo? O WB, que começou por perceber que estava errado, que teve a humildade de o reconhecer e foi perguntar, ler, estudar, pesquisar - ou aqueles que nem sequer admitem que podem estar errados? Quem é o arrogante? Quem é o sobranceiro?

Volto a perguntar: e o WB faz sempre tudo bem? Não (ele próprio o afirmou). O WB diz sempre as coisas da forma mais simpática? Não. O WB sabe tudo sobre tudo? Não - ele próprio o afirmou. Aliás, se tiver pachorra, leia o blogue e vai verificar o quanto evoluiu o pensamento do WB ao longo destes anos. E mais: vai verificar que ele é tão intelectualmente honesto que não apagou nada do que escreveu no passado - nem mesmo quando essas coisas estão em flagrante contradição com o que pensa agora. Isto é, pode com toda a facilidade ser acusado de entrar em contradição. Compare agora com os seus "trajados": de quantos pode dizer o mesmo? Quem é que, afinal, se julga infalível? O que estuda, porque reconhece o erro, ou o que nem sequer quer saber?

Eu não tenho grandes dúvidas.

Começar do zero? Não é necessário: basta que as pessoas emendem a mão e repensem o que fazem e o por que fazem...

Isto é fácil de fazer? Não, porque as pessoas nem sequer querem saber. E esse é o principal problema.

Este espaço (blogue) é para isso mesmo: para que todos exponham livremente e partilhem o que sabem. Já não era a primeira vez que os autores do blogue dariam razão a quem a tem. É tão simples como isto.

Para terminar, apenas uma história. No Porto, apareceu há uns anos a ideia de que à noite tinha de se andar sempre de capa traçada. Queriam praxar um rapaz que não vinha de capa traçada. O rapaz liga a um sujeito perguntando-lhe se tinha de andar ou não. Ora este último, que sabia umas coisas de praxe, disse-lhe, evidentemente que não. "Quem te disse isso?" / "Foi Fulano (uma personagem graúda do MCV...)". O nosso homem que sabia de praxe e conhecia a personagem em questão ligou ao tal graúdo, que começou por tentar fazer valer a tese da capa traçada à noite com argumentos muito pouco fiáveis "Ah e tal, por causa do frio... ah e tal, por causa da praxe... Ah e tal por isto e por aquilo", argumentos que iam todos pelo cano abaixo até que, por fim, confessou" Fui eu que inventei..."

As duas personagens em questão conheço-as eu, e ambas me confirmaram o sucedido... É disto que a Praxe se alimenta, da vontade individual.

Cumprimentos e apareça sempre com argumentos e factos, que a gente cá está para lhes dar o devido valor.

Eduardo

Eduardo disse...

Resposta ao Anónimo que em 30 Julho, 2012 15:58 escreveu, entre outras coisas, o seguinte:

"Entrei no ensino superior na década de 90 e já vi muita coisa durante estes anos. Umas boas outras menos boas e outras até que não lembra o menino jesus.
A meu ver um dos grandes problemas para a existência de um fosso entre as ultimas 2 ou 3 décadas, é a massificação."

De facto, a massificação contribuiu muito para a dispersão. Ao isolarem-se cada vez mais nos respectivos pólos, as faculdades e institutos desenvolveram "praxes" próprias.

Sendo um problema, este tem também uma solução extremamente fácil: a publicação de um código.

Resta perguntar: QUEM não quer que seja publicado um Código de Praxe do Porto - e PORQUÊ?

Quem não quer? À cabeça, o MCV, na sua generalidade. Haverá certamente elementos que querem, mas a maioria dos seus elementos é contra.

E é contra por motivos declarados e motivos ocultos.

Motivos declarados: um código leva a que a praxe se "fossilize" e "morra"; por outro lado, entendem que se resvalaria para uma praxe de "caça" aos pontos e vírgulas.

Estes argumentos são fracos. A "espontaneidade" que se ganha (?) por não haver um código é a grande responsável pela bandalheira e pelas coisas que "nem lembram ao Menino Jesus".

Pelo contrário, a existência de um código impede que as coisas andem ao sabor dos interesses e delírios de cada um.

E por falar em interesses... esses são os motivos ocultos. Interesse em se perpetuarem em cargos. Porquê? Para não deixarem a praxe morrer? Mas isso era o pensamento de Luís XVI, que dizia coisas como "A França sou eu" ou "Depois de mim, o dilúvio". Entendia este monarca que a França morreria com ele...

Ora temos gente dessa também na nossa praça, gente que entende que, se "sair" a praxe vai acabar. Como?...

Nesse aspecto (como em quase tudo), estou perfeitamente à vontade: quando soube que ia deixar de ter condições para acompanhar a praxe de uma forma diária e como estudante, passei o cargo de Dux - muito embora tenha ficado na U.P. ainda durante mais 6 anos. Virei as costas? Não: deixei que as coisas fluíssem de forma natural, colaborando sempre que necessário e me foi pedido. Como ainda hoje faço.

Fiz o mesmo no OUP: passei o cargo de Magister da Universitária e de 1.º guitarra do Grupo de Fados.

E tudo isto por entender que a vida académica é para ser vivida por quem lá está. Não tenho o direito de tirar aos outros a oportunidade de viverem o que eu vivi. Tão simples (e tão duro...) como isto. "Dura Praxis, sed Praxis": é exigente, sim, mas é para todos, não apenas para os caloiros.

Não estou a "exigir" (entre muitas aspas) aos outros nada que eu próprio não tenha feito. Não falo de cátedra. Aponto apenas o meu exemplo. Nem com isto quero dizer que eu sou melhor ou os outros são piores. Digo que há formas diferentes e alternativas.

Eduardo

Anónimo disse...

Sou de estudante de Coimbra e mais uma vez é sempre um prazer ler todos os post's deste blog.

Este assunto é de facto muito contraditório na minha opinião, concordo com tudo o que diz mas na minha opinião é bom se ter criado esta tradição de dar significado ao primeiro traçar de capa, isto porque, cada vez mais estudantes desvalorizam a sua capa e o que fazem com ela.

Não é que isso tenha de ser feito obrigatoriamente numa serenata a primeira vez ou que tenha de ser a madrinha ou o padrinho. Mas acho que a primeira vez deve de facto ser marcante e feita com alguém que respeitamos.
Mas é só uma opinião!

Bom blog! :)

Leonor Algarvio disse...

Sou caloira este ano e fiz praxe apenas dois dias (leia-se dia e meio). Apesar de nunca ter achado muita piada à dita praxe não a poderia repugnar sem sequer experimentar. Sou uma pessoa calma, tolero ordens quando estas tem fundamento e não põem em causa a minha integridade física e/ ou psicológica e até acho piada a certas coisas que acontecem na praxe (muito raras, infelizmente), mas, após achar que o meu perfil não se enquadra no que modela a praxe na minha Universidade resolvi deixar de ir, e eis que me surge alguém que diz que posso trajar mas não traçar a capa e após uma longa pesquisa é bom ter pessoas como tu que mostram que o posso fazer quando tiver vontade e bem me apetecer. Concordo que quem não foi praxado não possa praxar, mas eis a questão, o que surgiu primeiro? A praxe ou o traje académico?

WB disse...

O traje é anterior à Praxe e a organismos de Praxe.
O que não deve ser confundido com a existência dos ritos como a caçoada, investidas, etc.
Ainda assim, nunca foi da Tradição ter de ser praxado para trajar ou estar na Praxe, nem mesmo para praxar.

Unknown disse...

Boa tarde,
Li o seu Blog e penso que todos que andam numa academia deva ler também
Situações como a que descreve é o que se vê mais, infelizmente.
Imposições de emblemas, e para usar pins tem de se ter mais de 5 matriculas.. Enfim..
Eu tive uma amiga que comprou o traje, mas que nunca o usou porque não ia à praxe e tinha "medo de represálias".
Enfim, agora inventam modas novas...
Espero que quando for o tempo dos eus filhos isto mude.
Continue a escrever sobre este tema que é bastante importante.
Vânia