sábado, agosto 04, 2012

Notas aos Bandos Precatórios

Eram denominados de "Bando(s) Precatório(s)"  o(s) grupo(s) de pessoas que ia(m) pelas ruas implorando a caridade pública em benefício próprio ou alheio.
Já há tempos aqui se abordou esta questão, num artigo dedicado à acção das Tunas neste aspecto, que podem (re)ler AQUI.

Numa época de muita miséria (quem não ouviu já falar na famosa "Sopa do Sidónio"?), de muita fome, encontramos inúmeras manifestações com fins de beneficência.
Fosse para asilos (infãncia desvalida, crianças  pobres, etc.), caixa dos estudantes pobres, para socorrer vítimas das cheias ou  outras intempéries, para acudir a diversas necessidades de gentes em aflição, os "cortejos de oferendas", os peditórios, os leilões (que ainda hoje se fazem por iniciativa das comissões fabriqueiras, mordomos ou outros grupos paroquiais), as quermesses, saraus, missas e matinés, tinham quase sempre, entre finais do séc. XIX e início do XX um cariz solidário. Podemos dizer que até aos anos 40, essa é uma característica inata e presente ao meio cultural e artístico: a arte em favor dos que mais precisam.

Com o alvor do Estado Novo, e querendo esconder a miséria do povo (pois o Estado queria passar a ideia de governar bem), esse tipo de iniciativas  praticamente desapareceu, embora a fome não (nomeadamente nos anos 40-50, anos marcados pelo racionamento), daí que a continuasse a "sopa dos pobres" (que ficou sempr  com o nome de Sidónio Pais, que a instituíu) e que os nossos pais e avós recordam sem grande saudade.

Numa recente incurssão à Torre do Tombo, encontrei alguns clichés, datados de ca. 1909, sobre este tipo de desfile (a que os periódicos da época  davam grande destaque), no qual as pessoas estendiam os cestos ou sacos, para receberem donativos.
Esses grandes desfiles (que iam das poucas dezenas às centenas ou mesmo milhares) eram quase sempre acompanhados por bandas ou filarmónicas, ou pelas Tunas, bem como, no caso de iniciativas académicas, pelos estandartes e docentes das escolas envolvidas.
Nesse especto, muito há que salientar a acção meritória e altruista dos estudantes (que não apenas os das Tunas), que redobravam em esforços e iniciativas caritativas.

Eis alguns desses clichés, tirados às portas dos jardins da Escola Politécnica.


Às portas dos Jardins da Escola Politécnica, podemos ver o pormenor do traje estudantil, com as características fitas no ombro direito e, em primeiro plano, dois deles levando o cesto/balde para recolher as oferendas/dádivas. Vemos ainda os alunos da Escola do Exército (devidamente uniformizados), lembrando que a larga maioria dos cursos ministrados (salvo o 5º, que era geral e o 1º que também dava acesso a engenheiros civis) servia a formação militar (exército e marinha), só numa fase mais recente serão ministrados estudos preparatórios ou acessórios para engenheiros hidrógrafos, professores do ensino secundário, alunos de veterinária e alunos de medicina.
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-03034_m0001





Em destaque a banda que acompanhou o bando precatório, servindo de chamariz à população, como era costume, já desde o tempo das bigornias nos desfiles carnavalescos, mais tarde as comparsas e estudantinas (Vd. "QVID TUNAE? A Tuna Estudantil em Portugal".)
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-03035_m0001




Neste imagem vemso algo bastante comum nos desfiles onde se incorporavam estudantes trajados: as capas abertas (também se fazia com eleas enroladas, como cordas), que os estudantes seguravam pelas extremidades.
Cota: PT-TT-EPJS-SF-008-01370



Foto do actual portão de onde, em 1909, saiu o bando precatório acima descrito.

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