terça-feira, setembro 18, 2012

Vicissitudes da Capa e Batina......ecos do passado

Já diversas vezes aqui se explicou, sem papismos e mitos feitos tra(d)ições que a capa e batina não deriva do clero, mas das vestes burguesas adoptadas para, precisamente, se proceder a uma verdadeira laicização do ensino em que o velho hábito talar e sucedâneos.
Não podemos negar que os primeiros tempos do republicanismo estavam pejados de verdadeiro fundamentalismo, de desbragado anti-clericalismo que viriam a ter o seu expoente máximo com a expulsão das ordens religiosas, nomeadamente na figura (hedionda, diga-se) de Afonso Costa, o conhecido como "mata-frades".

Do velho traje académico sobrou apenas a capa, grosso modo e a designação "batina"(ou seja "capa e batina" continuou a ser designação sinónima do traje estudantil), embora não existisse qualquer batina, mas uma casaca (que não é uma batina subida e adaptada).
Ramalho Ortigão foi um dos maiores críticos desta mudança afirmando ter sido o maior golpe dado á tradição (e com razão, diga-se), tal a mudança radical (pois não se tratou, na altura, de uma evolução, mas de radical mudança).

Aqui se deixam 2 artigos (ainda resultantes da minha passagem pela Biblioteca/Arquivo Municipal de Viseu).

O primeiro que reproduz os argumentos de um feroz crítico do traje clerical, um tal Alexandre Conceição, jornalista e intelectual da época, que refere a visita de um engenheiro francês, a quem mostrou a cidade de Coimbra, e que fica admirado por haver tantos "abades" na rua (e tão novos). Inteirado de que eram estudantes no seu traje estudantil, acha disparatado tal, terminando o artigo a acusar que tal uso é retrógrado e indigno d euma sociedade que se quer moderna e a acompanhar os tempos actuais.

O segundo é precisamente um informe do reitor da Universidade de Coimbra, sobre o aprumo desejado no corpo discente, o qual estava sujeito às regras e códigos de etiqueta que regiam a vida estudantil.



Jornal A Liberdade (Viseu), de 22 Abril de 1886, 16º Anno, Nº 803




Jornal A Liberdade (Viseu), de 22 Outubro de 1886, 16º Anno, Nº 829

1 comentário:

Eduardo disse...

Este Alexandre da Conceição era um jornalista e intelectual de pendor positivista (de reacção ao Romantismo, portanto) e republicano e socialista (na esteira dos homens da Geração de 70).

Se vires no "Qvid Tvnae", foi a este que o Camilo apelidou de "Tunante", a cargo de quem se achavam os dilúvios de asneiras da pátria.

Era um homem de valor intelectual. Camilo detestava-o talvez por isso mesmo.

Foi com este Alexandre da Conceição que Camilo teve as polémicas mais duradouras e violentas. São de agarrar a barriga a rir, pois em estilo e baixeza foram bem dignos adversários!

Abraço!