terça-feira, junho 04, 2013

Notas sobre a Mocidade Portuguesa e a Praxe


Em 2008, Joaquim Vieira lançou uma obra de enorme valia, editada pela Esfera dos Livros, sob o título Mocidade Portuguesa, na qual encontrei alguns apontamentos muito interssantes sobre a forma como as tradições académicas e o uso da capa e batina eram vistas por certos sectores do Estado Novo, nomeadamente pelos que tinham por missão doutrinar os muitos milhares de jovens e crianças desta organização, misto de escutismo e falange para-militar (embora menos radical que a Juventude Hitleriana, mesmo se comungando de muitos dos mesmos princípios educativos).

Nessa obra, nas páginas 140, 149, respectivamente,  damos de caras com  algumas bandas desenhadas que, em breves episódios, que quinzenalmente preenchiam o Jornal da MP, tratam de forma depreciativa os estudantes que teimavam em usar capa e batina.
Uma mordaz propaganda anti-tradições académicas, promovida pelos dirigentes da Moçidade Portuguesa,  a qual via com maus olhos a Praxe e as tradições estudantis universitárias, de que o traje era expressão mais visível.

Já na página 231 dessa obra magnífica, temos um cartoon que ilustra o quão inconformada está a academia de Coimbra com a politização da juventude (neste caso contra os jovens mais próximos do PCP).

A seu tempo, o N&M irá investigar as várias publicações do Jornal da MP (e toda a imprensa que em torno da organização existiu), procurando trazer-vos mais uns quantos exemplos e documentos históricos, os quais vêm, de certa forma, desfazer um enorme equívocos que se gerou na sociedade portuguesa: de que quem trajava capa e batina com isso exprimia a sua simpatia e adesão ao regime, coisa que, como podemos verificar, não corresponde à verdade.


  O "Caspa e Batina" - Jornal da MP da 1ª série, 1938, p.4







 O "Caspa e Batina" - Jornal da MP, Nº 1, Ano 1, de  01 Dezembro 1937, p.2





Cartoon de Júlio Gil contra a MUD Juvenil 
(Movimento Unidade Democrática), em 1947.








1 comentário:

O Gajo que Tem a Mania que Sabe disse...

Pois... a velha máxima de que "a história é escrita pelos vencedores" torna-se flagrante quando por estes lados se fala no pré e pós 25 de Abril.
Apenas posso dizer isto, com certeza de que quem me o conta (e diversos registos fotográficos comprovam) merece a minha total confiança:
- Pré 25 de Abril, estadistas, membros da MP, trajavam e foram proibidos de o fazer pós 25 de Abril (aliás, na UP, estadistas reconhecidos na universidade foram privados dos seus direitos associativos).
- Durante o "luto" no qual se prega que ninguém trajava, diversos estadistas faziam-no. Na faculdade de medicina, por exemplo, este foi um dos métodos para filtrar quem era ou não era estadista, e quem perdia ou não perdia direitos associativos (que agora não servem para nada, mas na altura eram muito úteis).

Como ainda estamos na fase cinzenta da história, em que muitos a querem reescrever, mas muitos que a viveram ainda estão vivos - engraçado como aqui se podia traçar um paralelismo com a Academia do Porto - vamos tendo versões incongruentes, nas quais um lado diz que pré revolução o traje era fascista e pós revolução comunista, e outro lado que diz precisamente o oposto.

Posso dizer o seguinte, os meus pais ambos foram estudantes da UP durante o "luto" e respectiva revolução. Minha mãe, estadista, sempre trajou, enquanto o meu pai, pseudo-revolucionário, nunca o fez. Ironicamente o meu pai acabou por perder os direitos associativos depois da revolução, pois o meu avô tinha-o inscrito na MP anos antes.