segunda-feira, julho 29, 2013

Notas de Luto Académico

Reza a tradição que, aquando do falecimento de um pessoa cuja importância e relevo seja  digna dessa honra, se decrete luto académicos por 3 dias, devendo usar-se a capa descaída pelos ombros e abotoada com o respectivo colchete.
No caso, por exemplo, da morte de um estudante, sem outro relevo que não o de ser aluno da instituição, de um funcionário ou de um docente não titular de cadeira, decreta-se luto apenas para o dia das exéquias.
Erradamente se afirma que a Praxe é suspensa (muitos decretos cometem esse lapso), quando isso é, de todo, impossível.
A partir do momento em que se participa na cerimónia ou apenas se envergue o traje, trajando secundum praxis em função do acontecimento, está-se, obviamente, em Praxe.
O que usualmente se suspende é quaisquer actividades de gozo ao caloiro. Pode, no entento, de acordo com o momento e contexto, suspenderem-seoutras actividades (por exemplo se sucede algo incomum durante a Queima).

Manda, também, a tradição que, em qualquer cerimónia fúnebre, os estudante se apresente, para além da capa descaída e abotoada, com a respectiva batina (carcela) fechada até ao pescoço (hoje em dia a larga maioria não apresenta o mecanismo próprio para tal, algo que o estudante deve exigir ou colocar por sua conta).
De notar que tal preceito (fechar a batina), é algo que surge depois da década de 20 do séc. XX.

Luto Académico, funeral de Veiga Beirão, lente da UC,
in Ilustração Portuguesa Nº561, de 20de Novembro de 1916
Com efeito, conforme a imagem acima, ainda não estava convencionado o fecho da batina. A esse propósito, diz-nos António M. Nunes que os  "Estudantes de capa e batina desfilam no cortejo fúnebre levando as capas conforme usança nos bandos precatórios (peditórios na via pública) e nas arruadas das tunas estudantis;
 -estudantes com as batinas desabotoadas, sinal óbvio de que a "tradição" que associa a carcela fechada ao luto ainda estava para nascer" (in blogue Virtual Memories, artigo de 16 Fevereiro de 2013)



Como já o referimos, o luto académico e etiqueta a observar em cerimónias fúnebres, faz parte do protocolo, dos ritos próprios, ou seja da Praxis (da Praxe), pelo que paradoxal e incoerente quando se decreta a sua suspensão.

Observa-se o luto académico quer a título pessoal (morte de familiar ou pessoa próxima) quer quando tal é decretado pelo organismo que tutela a Praxe.
Quando o luto é decretado local ou nacionalmente, pelas autoridades competentes, e caso não seja acompanhado de declaração do organismo de Praxe, cabe conscientemente ao próprio estudante observar esse luto e usa o traje em conformidade.
Foto de Francisco José Carvalho Domingues, em 1969,
enquanto aluno de Coimbra, enviada pelo próprio (a quem desde já agradecemos).


Em certos casos, o féretro da pessoa é coberto com as capas dos estudantes, na falta de uma bandeira, por exemplo.
Assisti, há uns largos anos, a um caso em que a urna foi coberta apenas com uma capa (comprada para o efeito), na qual algumas pessoas (em representação dos estudantes e de vários grupos académicos ou instituições) procederam aos rasgões da praxe (amizade), em jeito de homenagem. Nesse caso, por uma questão de ordem prática e respeito, os cortes não foram feitos com os dentes, mas com uma pequena tesoura (abrindo-se o restante rasgão com as mãos, naturalmente).


Deixamos aqui alguns registos fotográficos, já com alguns anos, diga-se, de estudantes trajados em actos fúnebres, embora em nenhum deste clichés (referentes a Faro e Lisboa) os alunos estejam com as batinas fechadas, mas apenas apertadas. Também as capas não estão, em alguns casos, totalmente descaidas (estão-no, mas com dobras) nem abotoadas.


Estudantes do Liceu de Faro no préstito fúnebre aos náufragos do navio "Faro".

 Illustração Portugueza, II Série, Nº 317, de 18 Março 1912, p.364 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).




Estudantes de luto, durante as exéquias de Guerra Junqueiro




Ilustração Portuguesa, 2ª série, Nº 909, de 21 Julho de 1923, pp.73-78 (Hemeroteca Municipal de Lisboa)


quinta-feira, julho 25, 2013

Notas à Vida de Coimbra


Como a própria reportagem refere, tratam-se de "episódios da vida e da paizagem de Coimbra".
Ainda se consegue vislumbrar bem que o traje dos estudantes de Coimbra apresentava variantes, fosse nos coletes ou até no tipo de gravatas (que tanto eram pretas, como coloridas, às listas...).

Vale a pena recuar no tempo e revisitar a Coimbra de 1914.







                     Illustração Portuguesa, II Série, Nº 421, de 16 Março de 1914, pp.346-350 (Hemeroteca Municipal de Lisboa)



Notas ao percurso de um Bacharel de Coimbra



Um artigo que nos dá conta do percurso académico de um estudante em Coimbra (até se fazer bacharel - curso de 4 anos), as praxes, o estudo,...... um retrato muito interessante sobre a praxis na primeira década do séc. XX.
De notar que este artigo é acompanhado de imagens preciosas (forma de trajar, a pasta e fitas...), realçando-se uma que julgo profundamente importante: a trupe; pois são raros os clichés sobre este tipo de grupos.







Illustração Portugueza, II Série, Nº 302, de 04 Dezembro 1911, pp.710-713 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).


Terminamos este artigo, recorrendo à citação transcrita por João Baeta (a quem desde já agradeço):

"SAUDADES DE COIMBRA
Dizem-me, porém, que apezar de tudo, apezar da frivolidade pautada dos dias da Coimbra academica d'hoje, terei saudades
d'estes dias. Ter saudades de Coimbra é para o bacharel um tributo tão obrígatorio como o pagamento da congrua para o cidadão inscripto na matriz. Seria menos attentatorio dos nossos preceitos sociaes visitar alguém em chinellos, do que sahir de Coimbra sem a alma retorcida de saudades.
Póde representar torturas, difficuldades monetarias ou inteIlectuaes de toda a especie a conquista da bacharelice. EIIa póde equivaler a um numero sem fim de humilhações, de desalentos, de anciedades, de faltas d'ar e de confôrto, de revoltas e de desdens. Mas conduido o quinto anno, preparadas as malas, o bacharel observador dos bons costumes começa a desdobrar o lenço para enchugar lagrima. E enchuga a lagrirna ao chegar á Estação-Velha, ao perder de vista a silhueta ondulada da cidade, ao entrar na terra abraçado por parentes e amigos. E a todos assevera, os olhos humidos em alvo, a voz rouca da commoção, a mão espalmada sob peito:
- Ai, aquillo sim, meninos! Vida como aquella não torna!... "
 
SOUSA COSTA: 191?; 218/219

Melodias do Orfeon Académico de Coimbra em Paris (1911)






                 Illustração Portugueza, II Série, Nº 264, de 13 Março 1911, pp.329-333 (Hemeroteca Municipal de Lisboa)





                Illustração Portugueza, II Série, Nº 270, de 24 Abril 1911, pp.536 e 357 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).






quarta-feira, julho 24, 2013

Notas de Meio Século de Vida Coimbrã

Um extenso artigo de 1906 que retrospectiva Coimbra, publicado sob o título  "Meio Século de Vida Coimbrã", onde surgem diversos testemunhos que nos transportam ao interior de uma Coimbra tradicionalistas, a Coimbra do romantismo e cavalheirismo, sita nos anos de 1860-70.

Para quem tiver vagar de ler, vale a pena.











Ilustração Portugueza, II Série, Nº 22, de 23 de Julho de 1906, pp.685-695 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Notas de Imprensa à Greve Académica de 1907

O N&M já tinha dado conta de alguns informes sobre a crise académica de 1907 (ver AQUI) - que teve lugar nos meses de Março e Abril, complementando-os, agora, com alguns artigos publicados na época.
Sem estarmos a querer alongar-nos, apenas referir que esta greve teve como rastilho um incidente relativo ao chumbo de um aluno, sendo tal pretexto para o eclodir de velhas reivindicações, numa academia politizada, é certo, mas que, antes de mais, ansiava por reformas e progresso.

Os clichés constantes permitem-nos, igualmente, apreciar o traje estudantil em uso nos liceus, escolas superiores e universidade (já que a greve não se confinou a Coimbra).




Ilustração Portugueza, III Volume, Nº 55, de 11 Março de 1907, pp. 294-296 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).








  Ilustração Portugueza, III Volume, Nº 66, de 15 Abril de 1907, p.450 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).











 Ilustração Portugueza, III Volume, Nº 61, de 22 Abril de 1907, p.505 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).