segunda-feira, outubro 27, 2014

Notas ao Traje e praxistas das Etiquetas


 
Hoje debruçamo-nos sobre essa moda, a ganhar contornos de histeria colectiva, que pegou de norte a sul do país, de arrancar as etiquetas do traje académico com o pretexto de ser praxe, de ser obrigatório.

 
Pasme-se, caro leitor, que a suprema estupidez atinge os mais altos limites, quando verificamos que tal vem consagrado, inclusive, em códigos ditos "da praxe". Sim, sim, falo exactamente dessa treta de documentos que são o registo inequívoco da incompetência praxística dos estudantes (quando deveriam ser o contrário).

Como dissemos, anda-se agora a perseguir, qual "caça às bruxas", as etiquetas do traje, havendo até quem tenha a distinta lata de passar revista ao interior do traje dos estudantes.

Quem percebe minimamente do assunto ficará em choque. Revistar o interior do traje?
Pois é verdade, lamentavelmente.

 É só mais uma argolada a somar a outras do género, a lembrar o que há uns anos largos sucedeu pelos lados da Universidade de Aveiro, em que diziam aos estudantes que tinham de usar a roupa interior com logótipo da Associação Académica (que a própria venderia: boxers, t-shirts, meias....) ou então o que ainda até há pouco tempo (hoje já não, creio) sucedia no ISEL, em que o código determinava a proibição do uso de soutien preto.

 
Claro está, que tudo isto releva de ridículo papismo e exagero e que de Praxe nada tem, e muito menos de senso.

 Mas mais: há, em certos "burgos" quem faça da revista ao traje uma espécie de prova, de teste, podendo inclusive chumbar na praxe se a avaliação for negativa.

 
Mas como pode um burro vestido de traje certificar a conformidade do porte correcto de outrem, ao violar dolosamente a própria Praxe, quando vai além do permitido?
E que autoridade tem seja quem for para "chumbar" ou "reprovar" alguém em praxe? Mas anda tudo doido?
Mais adiante explicamos esse erro de revistar pessoas dessa forma.
De toda a maneira, sobre essa perfeita idiotice anti-praxe de avaliar pessoas em praxe, o melhor é lerem AQUI.

 
QUAL A RAZÃO AVANÇADA PARA PROIBIREM ETIQUETAS?

 

 Quem ainda se pergunta por que razão se anda a proibir o uso de etiquetas e a mandar que seja retiradas tem resposta simples:

Alegam que sendo o traje para igualizar os estudantes, as etiquetas estão a ir contra essa ideia, e por isso é preciso retirá-las.

 

A VERDADE E OS FACTOS
O MITO, A MENTIRA DO TRAJE IGUALIZADOR

 
É pois o argumento do traje que serve para tornar todos iguais que serve de pretexto para atacar as etiquetas, estejam elas à mostra ou não (para alguns importa é perseguir e pensar depois).

 
Uma vez mais, e por mais que tentemos desmistificar, ainda encontramos gente que parece viver num enclave onde se alimentam de ignorância e parecem impermeáveis ao saber e ao mundo que os rodeia.


Assim, ainda há quem defenda e ache que o traje existe para igualizar os estudantes, para impedir diferenças entre ricos e pobres.

Mas na verdade, o argumento está errado:

O TRAJE NÃO SERVE PARA IGUALIZAR E NUNCA TEVE ESSE PROPÓSITO.

 Já o comprovámos aqui neste blogue e por isso escusamos aqui repetir o conteúdo.
Podem aceder à explicação cabal, clicando AQUI.

 Se as etiquetas eram tiradas com base no argumento nivelador e de igualdade, pois fica sem tapete para se manter de pé.

 De acordo com o que comprovamos sem margem para dúvidas, e como Eduardo Coelho dizia sobre a questão, "seguindo a lógica formal de Aristóteles, de uma premissa errada não se pode extrair uma conclusão verdadeira.
Ora se a premissa "O traje serve para igualizar os estudantes" está errada, pelo que o resto do raciocínio, por mais bem elaborado que esteja, assenta num princípio errado - logo só pode chegar a uma conclusão errada."

 

O ERRO DE REVISTAR O TRAJE NA PROCURA DE ETIQUETAS

 
Como atrás prometemos, vamos agora lá pensar sobre essa coisa de revistar o traje e do abuso que é revistar o seu interior.

Sendo o Código de Praxe de Coimbra o mais antigo (data de 1957), estará, por isso, mais perto da fonte que o inspirou, o mesmo se passando, no caso do Porto, para o projecto de código assinada por Balau e Soromenho, em 1983, com base no de Coimbra, o que dizem eles?

  • Sobre passar revista ao traje - proibem determinantemente revista ro interior do traje, apenas sendo permitido revistar o que está á vista e sem tocar.
  • Arrancar etiquetas - Nada referem. Por isso não é da Praxe ou Tradição a obrigação de arrancar as mesmas. Não proíbem que se tire, mas não apoiam que se arranquem com a justificação de ser Praxe.

 
E se quisermos recuar aos documentos de cariz "normativo" anteriores ao Código de 1957, nenhum deles refere a permissão de revistar o interior do traje (proíbem-no, aliás) e muito menos que é da praxe arrancar etiquetas ou sinais visíveis e diferenciadores entre trajes.

 
Mas pode o leitor consultar o "Palito Métrico (1746) e Correlativa Macarronea Latino-Portugueza (1765)", de Antonio Duarte Ferrão, (pseudónimo do padre João da Silva Rebello), as "Leis extravagantes da Academia de Coimbra, ou Código das muitas partidas", de Barbosa de Carvalho (1916), e "As Praxes Académicas de Coimbra", de Dinis de Carvalho, Pereira da Mota e Sousa Ribeiro (1925) que são reconhecidamente os documentos que registam a praxis e suas regras ao longo da história. E faça o leitor igual com o  "In Illo Tempore" de Trindade Coelho ou qualquer outro documento de referência sobre Tradições Académicas.

 
Agora, cito (uma vez mais) o meu ilustre colega de bancada aqui do N&M, o professor Eduardo Coelho, a propósito da revista e da caça às etiquetas:

 
"Ora ninguém pode revistar no traje de outrem mais do que lhe é dado observar sem tocar.
A praxe prevê uma dose de reserva individual que não pode nem deve ser ultrapassada.
Esta questão do interior do traje é um princípio mais antigo do que qualquer código. É pura questão de bom-senso. Ninguém tem o direito de expor misérias alheias.
Ora se um indivíduo me aparece trajado, partindo do princípio de que não aparece com a roupa vestida do avesso, não tenho hipótese de ver-lhe as etiquetas. Ninguém tem autoridade para mandar outrem tirar o traje - não há código que o sustente, defenda, preveja ou autorize.
(...)
se as etiquetas não são visíveis, não há forma de saber se o teu traje é mais caro do que o meu -a não ser que, para ver as etiquetas do teu traje, eu violente primeiro um princípio básico de praxe: a reserva da privacidade que nem mesmo um veterano pode violar.
E eis a razão pela qual não faz sentido arrancar as etiquetas.
(...)
Não está em causa o tirar ou não, mas obrigar os outros a tirar e afirmar quer isso é praxe - e pior, revistar os trajes dos outros à procura de etiquetas. Isto não só não é praxe como é um atentado à própria Praxe. "[1]

 

Como está bom de ver, não há base alguma que sustente o retirar das etiquetas como sendo praxe, como sendo obrigatório, muito menos ter a ousada estupidez de revistar a roupa das pessoas.

E pena é que sejam precisamente os líderes dos organismos de praxe e seus ajudantes de campo os primeiros a alimentar a praxe não com rigor e exemplo de saber, mas precisamente com a sua incompetência total e absoluta.

 E o resto dos ignorantes vão atrás disso, fiando-se naquilo que o colega, o amigo ou veterano lá do bairro lhe diz (ou porque têm essa pessoa em boa conta, ou porque ela têm o poder para impingir tal treta, na base da sua hierarquia), porque vale mais o "diz que disse" do que provas sérias e concludentes.

Uma vez mais, são os organismos de praxe o veículo de disseminação dessa doentia obsessão, promovendo-o e/ou permitindo-o, para vergonha de todos, desde logo porque contraditório do nível intelectual exigido a quem cursa o ensino superior.

 

 - Mas é proibido arrancar as etiquetas?
- NÃO, não é!
- Então posso arrancá-las?
- PODE, mas nunca por obrigação, por ser praxe ou norma.
- Se me mandarem tirar as etiquetas o que faço?
- Manda essa pessoa pastar já que ela está a ser burra.
- E se me quiser revistar o interior do traje?
-Você recusa e justifica que perante assédio faz queixa na polícia (e faz mesmo), além de ser norma anti-praxe.

 

 

Nota: o que aconselhamos é que não tirem a etiqueta do traje, apenas e só pela garantia que conferem ao mesmo. Se por uma qualquer razão pretenderem fazer um arranjo ao traje na casa onde o compraram, convém ter a prova de que foi lá adquirido e a etiqueta existe precisamente como garante de tal.

 

[1] In grupo "Tradições Académicas&Praxe" do FB [em linha], tópico "Praxe da etiqueta", em 26 de Outubro de 2014.

sábado, outubro 25, 2014

Notas ao uso da Capa (Praxe Traçada com praxismos)



O que não falta por aí são versões, lendas e romanceadas ideias de como se deve usar uma capa com o traje académico.
Assim, temos ditames que determinam que se usa desta ou daquela maneira, em função de inúmeras variáveis que rivalizam entre si em ignorância e autismo.
Ele é em função da hierarquia, de praxes com caloiros, de estar na praxe, de praxismo, do "disse que disse"...... uma caterva de razões que os códigos respectivos consagram a modos que registo de idiotices.
 
 
A capa tem uma função primordial e existe por uma única razão: AGASALHAR.
 
Porque parte de um uniforme, segue, para um conjunto muito restrito de situações, aquilo que é a etiqueta e protocolo próprios do uso do traje (Praxe), a saber:
 
 
- TRAÇADA: APENAS E UNICAMENTE (como próprio da etiqueta/praxis académica) em serenatas (Monumentais) e em trupe;
 
- DESCAÍDA PELOS OMBROS (sem quaisquer dobras): APENAS E UNICAMENTE (como próprio da etiqueta/praxis académica) em momentos solenes ou perante autoridades;
 
 
Assim, meus caros leitores, nem mesmo para praxar é imperativo traçar a capa, como alguns preconizam. Muitos menos por ser noite.

Fora estas situações específicas em que a capa se tem de usar como acima mencionámos, a mesma usa-se como cada um bem entender, seja caloiro ou veterano.

A essas maneiras informais e comuns de usar a capa, se dão várias designações, conforme o modo como a mesma é transportada (à tricana [1], também apelidada de "à senador", ou seja com a capa passando por baixo do braço direito; à ninja, pelos ombros, ao ombro, ao braço, à cabeça........), que não passam disso mesmo: designações correntes e em jeito de cognomes, atribuídas com a época em que se tornaram moda.
 
Nisso não há Praxe alguma, precisamente porque esses usos não são nem obrigatórios nem proibidos (salvo nas únicas situações que atrás citámos).

Nota: Como referimos em nota de rodapé, a designação do "traçar à tricana" poderá não ter propriamente origem nas mesmas e no modo como usavam o lenço em torno do tronco, pois que já os estudantes usavam a capa desse modo, ainda antes das tricanas o fazerem, além de que dificilmente se explica que, no país vizinho, estudantes e tunas já o fizessem também.
 
 
Mas é proibido usar capa traçada numa praxe ou descaída sem dobras noutras situações do dia-a-dia? NÃO!
Pode-se, então, usar? PODE!
Mas sou obrigado a usar? NÃO!!
 
Existe, recordemos, uma diferença enorme entre aquilo que é obrigatório, secundum praxis, e aquilo que é permitido fora dessa obrigatoriedade

Porque não existe proibição ou restrições a nenhum modo de usar a capa fora dos casos previstos, cada qual usa como lhe der jeito e lhe for confortável.

Não há obrigatoriedades que não as acima mencionadas, sendo que não há igualmente restrições fora das situações referidas.

E muito menos existe qualquer fundamentação para não estar afastado da capa mais que X distância. Isso não tem qualquer base histórica ou tradicional. E quem acha que tem, prove-o documental e historicamente, e não com recurso ao produto dos seus intestinos ou com aquilo que emprenhou pelos ouvidos.

Estar demasiado afastado da sua capa, seja por que razão for (cada um sabe de si), pode é implicar alguém no la roubar, tal como deixar a carteira ou o telemóvel, nada mais [2].

As únicas situações em que é imperativo estar correctamente trajado é nas actividades em que, por tradição, o estudante se deve apresentar rigorosamente uniformizado.
Obviamente que, fora estas situações, o estudante tem apenas o dever moral, e brio pessoal, de saber dignificar o traje que enverga, sem contudo que tal implique ortodoxias  e papismos fundamentalistas de medições de distâncias ou contagem de peças que se traz no corpo, especialmente em situações em que o bom-senso e a etiqueta mandam que não se esteja vestido como se estivéssemos em noite gélida.

Não passa pela cabeça de alguém inteligente que se muda um pneu furado totalmente trajado ou que é crime de lesa praxis estar numa esplanada de café sem o poder fazer em colete. Do mesmo modo que almoçar sem casaca (batina) é não apenas conveniente como nada tem a ver com praxe.
E mesmo, por exemplo, em eventos académicos como Baile de Gala, mandam os bons costumes que o estudante dance sem capa, e não deixa de estar "fora da praxe" por isso.


Estar na Praxe é saber obedecer ao que a etiqueta e protocolo académicos determinam para certas situações e não para todas só porque se está trajado.

Pasme-se que, até no que concerne ao traçar da capa em serenatas não havia inicialmente qualquer codificação que obrigasse a taparem-se os colarinhos brancos (quanto mais a estupidez de arregaçar as mangas - más há gente idiota que o faz pensando que é obrigatório, que é da praxe).
Isso de "tapar os brancos" (e apenas os colarinhos) foi uma convenção mais tardia, tanto que Alberto Lamy nada refere quando fala das Serenatas Monumentais (nem quando fala de Trupes), o que por si só é suficientemente esclarecedor:

"A Serenata Monumental, ao cimo das escadarias que conduzem à entrada principal da Sé Velha, o altar do Fado de Coimbra, marca o início das festas da Queima das Fitas.
Integrada nas festas da Queima, pela primeira vez em 1949, a Serenata Monumental é a consagração dos guitarristas e cantores que nela actual.
(...)
É praxe, na Serenata Monumental, não se baterem palmas e os assistentes manterem-se em silêncio até ao final. Os estudantes devem ter a capa traçada e as insígnias pessoais recolhidas.
Após a restauração das tradições (1980), voltou a ser praxe a realização, em seguida à Serenata Monumental, da Ceia dos Boémios (actualmente na cava do Departamento de Química)." [3].

Nota: nas demais serenatas, não existia, em épocas mais recuadas, qualquer codificação em sequer se traçar a capa. Algumas fotos esclarecedoras disso são prova no artigo que anteriormente dedicámos à praxis da Serenata (ver AQUI).

Como se pode verificar, nem mesmo essa obsessão pelos "brancos proibidos" merece tão devota ortodoxia, especialmente no que concerne às mangas, as quais, quando trajado a rigor (momentos formais), secundum praxis, devem estar abotoadas, porque assim é educação e etiqueta, como a Praxe preconiza. Fora isso, cada qual arregace à vontade.

Usa-se a capa como dá jeito, sabendo que há ocasiões muito específicas (e são tão poucas que não há que enganar) em que ela se usa de determinada maneira.

Tudo o que vá para além disso, esteja num código ou em papel higiénico usado (muitas vezes são sinónimos) é excesso de zelo movido por fantasias romanceadas pela ignorância, pelo gosto da picuinhice e promover farisaicos preceitos que obstruem as mentes, asfixiam a Tradição e cobrem de ridículo quem assim pavoneia a sua ignorância.
Ficam alguns clichés suficientemente claros.
Estudante de Coimbra no séc. XVIII
 com capa traçada descaída sobre o peito.


Estudante de Coimbra no séc. XVIII


Estudante espanhol, no séc. XIX


Antigo estudante espanhol. do séc. XIX
(Museo Internacional del Estudiante)
Julgamento do caloiro (1940) com o mesmo trajado com a capa pelo ombro
e os demais usando a capa de diversas formas (sem obrigatoriedade de estar traçada).


Pintura mural de uma trupe, na qual podemos ver o uso da
traçada ou até enrolada ao pescoço.
(Real República Rás-Teparta)
Trupe (cliché tirado para postal ilustrado - por isso foto diurna)
em que alguns elementos usam a capa pela cabeça e o caloiro a tem descaída.
(1940)

Trupe em foto de estúdio (para postal ilustrado) com o
caloiro a usar a capa no braço.
Estudante da UC em 1891

Manuel Louzã Henriques, dia de formatura,
com os sineiros da Torre da Universidade (p.189) em 1961.

Quintanistas de Coimbra em Récita, onde podemos ver alguns
estudantes disfarçados de tricanas (e usando o lenço traçado sobre o peito).
Ilustração Portugueza, 1ª Ano, Nº 23, de 11 de Abril de 1904, p. 359
 (Hemeroteca Municipal de Lisboa).

Os Estudantes Portugueses em Paris, onde podemos ver
 diversas formas de usar a capa.
 Illustração Portugueza, 2ª série, Nº 11, de 7 de Maio de 1906, p. 341.
Liceu Alexandre Herculano, do Porto, no ano lectivo de 1905-1906.
Foto de Padre Moreira das Neves, -o Cardeal Cerejeira, Lisboa, ProDomo, 1948
Benção das Pastas na capital, a qual se realizou em 1933
 (na Igreja dos Mártires), para os "quintanistas católicos de direito e medicina.
Por se tratar de cerimónia solene, a capa está descaída sobre os ombros.
(Ilustração, 8º Ano, Nº 6 (174), de 16 Março 1933, p.10 - Hemeroteca Municipal de Lisboa)
Tuna Porto 1897, com os elementos usando capa de várias maneiras
 O Tripeiro, V série, ano VII, n.º 10 (Setembro de 1951), pág. 99
Pequena BD onde se retratam estudantes na praxe,
usando a capa de várias formas (pelos ombros, à tricana e ao braço)
O Caspa e Batina - Jornal da Mocidade Portuguesa da 1ª série, 1938, p.4
Serenata Monumental em Coimbra, com o uso da capa traçada.
Queima do grelo (que dá o nome à Queima das Fitas) na UC,
onde podemos ver o estudante de capa ao ombro.




[1] Por, segundo certas correntes, imitar a forma como as tricanas de Coimbra usavam o lenço em torno do tronco (algo que não consegue explicar como a mesma moda ocorria no ps estudantes do país vizinho). Uma forma de usar a capa muito comum no séc. XIX e (até à década de 1960), como dezenas de clichés da época o comprovam, tunas portuguesas e espanholas inclusive.
[2] E se é para praxar ou participar de uma actividade formal, então a questão não se coloca, porque obrigatório trajar a rigor.
[3] LAMY, Alberto Sousa, A Academia de Coimbra, 1537-1990, História, Praxe, Boémia e Estudo, Partidas e Piadas, Organismos Académicos. Lisboa, Rei dos Livros, 2ª edição, 1990,p. 673

segunda-feira, outubro 20, 2014

Notas à Praxe (des)importada.

Um argumento muito recorrente nas novéis academias é: "Não temos de seguir à risca Coimbra, porque temos as nossas próprias baseadas na nossa história local".
 
Então reflitamos:
Coimbra serviu ou não de modelo, como Alma Mater, para as Tradições e a Praxe estudantis existentes?
Se serviu, em que medida se pode importar avulso?
Com que legitimidade?
Pede-se uma nota de 5 euros e mete-se lá mais um zero esperando que passe por uma nota de 50?
Quem querem enganar?
 
É a Tradição rodízio onde a pretexto de implementar tradições estudantis, se faz corte e costura seguindo modas em vez de, precisamente, seguir a Tradição?
Metem-se pinheiros no lugar de árvores de fruto e pretende-se que continua a ser um pomar?
Mas querem enganar quem?
 
Se as nóveis academias usam traje estudantil (capa e batina ou imitandoa mesma), usam e impõem insígnias como grelo e fitas, usam pasta, fazem Serenata Monumental, têm Cortejo da Queima, têm Latada e Baptismos de caloiros, Julgamentos, Apadrinhamentos, Missa de Benção das Pastas, Praxe e praxes, usam insígnias de praxe e pessoais, cartola e bengala nos finalistas, usam terminologia e hierarquia inspirada na Praxe coimbrã (caloiro,doutor, veterano, Dux....ou equiparado) ............ como negar que a sua legitimidade assenta precisamente nesse franshising?
Mas se é franshising, até ele tem regras.
O Mc Donald's de Odivelas pode usar o logo da Mercedes, vender cachorros e missangas e continuar a pretender ser o Mc Donald's, só porque vendem Happy Meal de cerveja?
 
 
Se não querem copiar, então não usem nem façam nada do que acima se menciona. Nem queima, nem insígnias, nem traje, nem coisa nenhuma. Façam outra coisa, mas nenhuma das acima mencionadas.
E não usem sequer o termo Praxe Académica, praxar, praxista ou Tradição Académica.
Não se é meio engenheiro, meio médico ou meio ateu.
 
 
Ah, falta essa coisa bizarra das "Tradições da terra".
Quando nos deparamos com tal justificativo/explicativo, redobra o ridículo onde mingua o senso.
Que tradições locais, autóctones, próprias e singulares existem em Viseu, Leiria, Faro, Covilhã, Viana ou Alguidares de Baixo que permitam deturpar a Tradição Académica Nacional e nela enxertar excentricidades folclóricas museológicas ou figuras históricas kitadas?
 
[Sim, tradição nacional, porque a Tradição e a Praxe são um património que embora tendo por berço Coimbra, se tornaram, desde finais do séc. XIX até aos anos 60 do séc. XX, cultura sem fronteiras distritais, concelheias ou de freguesia.]
 
Que tradições estudantis locais foram desenterradas para permitir e legitimar que, por cima da importação ,se proceda ao desmebramento e desvirtuamento da Tradição?
Em que é que se arrogam as nóveis academias para justificar tão significativas diferenças e desvios, a ponto de delapidarem a Tradição que importaram?
Pois. É que se inteligência houvesse para, pelo menos, procurar essas anteriores tradições académicas, iriam, pasme-se, encontrar uma riquíssima tradição académica com sede nos liceus.
E de onde veio essa tradição académica liceal?
De Coimbra, pois claro. Uma tradição que não passava por importar tudo, diga-se. Mas aquilo que se trazia "ad intra" era respeitado e honrado tal qual, merecendo o respeitoe carinho "ad extra".
Mas havia espaço a actividades próprias? Havia, mas sempre com base na observânciae respeito pela Tradição, começando no traje nacional (capa e batina), passando pelos ritos de recepção aos novos alunos e terminando nos bailes de gala, récitas e cortejos de fim de ano (para só citar alguns acasos).
Pois é. É que se querem falar de tradições estudantis locais, elas existem, e apontam exclusivamente para os liceus.
Mas alguém se lembrou de tal? Se se lembrou, cedo preferiu esquecer (para melhor inventar o seu umbigo), até porque para os alfaiates estilitas e modistas de ocasião, era incómoda essa tradição do uso do traje nacional no liceu local ,ao longo de décadas.
 
A Praxe e a Tradição sofrem de processos de continuidade e ruptura. O que não podem é romper com a própria Tradição, com o que é basilar, querendo artificialmente implementar algo de novo, mas vestindo e aparentando velho (para conferir "pedigree de inglês ver").
Tanto esforço por ficcionar e inventar que podia ser aproveitado para conhecer, questionar e ponderar.
 
Tradição e Praxe há só uma, precisamente aquela que foi transversal de norte a sul do país e ilhas, desde finais do séc. XIX até ao luto académico de 1969.

Não se percebe é como, depois, se ignorou isso (ou até se percebe), deixando que se instalasse uma verdadeira e medieva idade de trevas no que concerne estas matérias.

Podem existir pequenas cambiantes, pequenas adaptações, espaço para a identidade própria, sem que isso signifique sacrificar o próprio conceito de Tradição e vergá-lo à mediocridade de quem faz da ignorância o seu cartão de visita e pede que todos lhe passem procuração para livremente codificar palermices (que depois todos seguem em fundamentalista manada).
 
Não tem de ser "igualzinho" a Coimbra, têm é de ser Tradição Académica, aquilo que lhe confere precisamente esse statvs qvo, ou seja, o que é essência e cerne, algo que para ser Tradição transporta um conjunto de usos e costumes anteriores aos adornos, aos enfeites, ao embrulho.

segunda-feira, outubro 13, 2014

Notas ao Copy-PESTE praxístico

Copy-PESTE, exactamente assim, porque traduz perfeitamente o que sucedeu à Tradição e à Praxe e ao que hoje é doutrinado e codificado em praticamente todas as academias do país como sendo tal.

Repetem-se os erros, aliás copiam-se e adicionam-se outros tantos, e a tudo se chama Tradição e Praxe, sem contudo haver o mínimo de cuidado em verificar, confrontar fontes e, de facto, perceber o que se diz, conceptualiza,  pratica.

Depois, pior que tudo isso, é perseverar no erro, mesmo depois de saber que o é.

Deixo este texto que merece reflexão, porque  perfeita metáfora para o que, nestes últimos 25/30 anos (especialmente nos últimos 15/20) tem ocorrido:


"CÓPIA DA CÓPIA MULTIPLICA O ERRO!
 

Um jovem noviço chegou ao mosteiro e logo lhe deram a tarefa de ajudar os outros monges a transcrever os antigos cânones e regras da Igreja.

Ele se surpreendeu ao ver que os monges faziam o seu trabalho, copiando a partir de cópias e não dos manuscritos originais.


Foi falar com o velho Abade e comentou que se alguém cometesse um erro na primeira cópia, esse erro se propagaria em todas as cópias posteriores. O Abade respondeu -lhe que sempre tinham feito assim, que há séculos que copiavam da cópia anterior.... na verdade, desde o início da Igreja, para poupar os originais.

Mas admitiu que achava interessante a observação do noviço.

Na manhã seguinte, o Abade desceu até às profundezas do porão do mosteiro, onde eram conservados os manuscritos e pergaminhos originais, intactos e com a poeira de muitos séculos...

Passou-se a manhã, a tarde e a noite, e ninguém mais vira o Abade.
 
O último que o vira informou que ele estava indo em direção ao porão. Preocupados, o jovem noviço e mais alguns monges decidiram procurá-lo.

Nos labirintos do mais profundo e frio compartimento do porão, encontraram o velho Abade completamente descontrolado, tresloucado, olhos esbugalhados, espumando e com as vestes rasgadas, batendo com a cabeça já ensanguentada nos veneráveis muros do mosteiro.

Apavorado, o monge mais velho do scriptorium perguntou:

 - Mas, Abade, pelo amor de Deus, o que aconteceu?

 - IMBECIL! IMBECIL! IMBECIL o primeiro copista!!! Desgraçado, que arda no Inferno! CARIDADE!!!!! ... era CARIDADE!!!! Eram votos de "CARIDADE" que tínhamos que fazer... e não de "CASTIDADE"!!!...."


Não é difícil, pois, perceber por que razão as coisas chegaram ao estado em que estão, no que diz respeito à noção de Praxe e ao conceito de Tradição Académica, sendo os códigos de praxe um perfeito exemplo da falta de critério, de qualidade, de competência que reinam por mão de ignorantes praxeiros, instalados em tronos que, quais sanitas, debitam peste.

E o que mais surpreenderá é perceber como é que tantos estudantes, ditos do Ensino Superior, parecem passar aos organismos de praxe como que uma procuração para que outrém pense por eles, seguindo regrazinhas e invenções em total cegueira, em fila ordeira e submissa, e capazes de cometer os maiores disparates e atentados à Tradição, só porque se fiam mais no nº de matrículas do que em verificar da autenticidade das doutrinas e dogmas destilados por gente incompetente e ignorante, que reina pelo simples facto de ser veterano, membro do conselho da praxe ou da comissão lá do bairro.

Mérito académico no que concerne a Praxe e Tradição....... isso já não se exige a quem manda, infelizmente.


Nota: O texto chegou-me por via do José António Balau, figura de destaque da Praxe e Tradição Académicas da academia do Porto.

domingo, outubro 05, 2014

Notas de indignação para com o gozo ao caso do Meco

Lamentável e a merecer indignação.
 
Estes jovens deveriam ser severamente punidos - eles e quem assistiu ímpávido e sereno e/ou incntivou a fazerem aquilo.
 
Mais uma forma de denegrir a imagem do estudante perante a opinião pública e quem preza os valores do civismo e educação.
´de uma falta de sensibilidade e respeito que naturalmente revolta qualquer um com 2 dedos de testa.
 
Não se trata de humor negro, como alguns alegarão, em patética defesa.
Negro é o âmago desta gente.
 
Passou-se, pelos vistos, na ESTG em Leiria. Mas parece que também em Coimbra se cometeram excessos com a situação do Meco também a ser alvo de chacota e gozo.

Vergonhoso.



A ver, igualmente, o seguinte vídeo:

http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fportugalglorioso.blogspot.pt%2F2014%2F10%2Fluis-pedro-nunes-passa-se-e-arrasa.html&h=wAQG2i5Nc

Pondo de lado o excesso do comentador, a verdade é que a reacção generalizada vai na mesma linha: as pessoas estão fartas de casos de praxe, e não há maneira de se ver louz ao fundo do túnel; pelo menso enquanto os praxistas não perceberem que a culpa é apenas sua, pois são estes repetidos episódios praxísticos que alimentam toda esta celeuma.

Notas de repúdio à "Praxe"na ESTeSL

A imagem fala por si e já corre as redes sociais, despertando a esperada indignação de quantos véem esses preparos por parte de estudantes trajados, neste caso pertencentes à  Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL)
É por essas e por outras que a credibilidade da Praxe e imagem do estudante universitário estão como estão.
Lamentável quer pela falta de decoro e civismo (e verdadeira idiotice), quer pela total falta de senso ao não perceberem o impacto de tais posturas.

Custa a acreditar que seja gente a cursar o ensino superior.
É verdade que a inteligência não escolhe estratos sociais (e ainda bem), mas educação não depende nem das origens nem da bolsa.




Se roupa cara não esconde educação barata, muito menos o traje académico esconde a mediocridade de quem o veste.