sábado, abril 23, 2016

Notas ao Caloiro que pode, e deve, trajar........sem condicionantes.

O CALOIRO NÃO TEM DE TRAJAR PELA 1.ª VEZ, APENAS NA SERENATA MONUMENTAL


Nesta altura do ano, altura das Queimas, continua ainda bem presente a ideia errada de que é nesta altura, especialmente na Serenata Monumental, que os caloiros devem trajar pela primeira vez.

Obviamente que isso não apenas está errado como é um atentado à Tradição e uma noção totalmente anti-Praxe.

Muitas "casas" proíbem liminarmente o caloiro de trajar (pior ainda, quando o fazem em razão da não participação em praxes -  uma verdadeira aberração - ver AQUI) até à sua 1.ª Serenata Monumental.

Traçar da capa 2011 GDLp ESCE IPS
O N&M já explicou e provou que tal ideia é errada (ver AQUI, sobre o caloiro que sempre trajou)

Contudo, continua a maioria dos caloiros a só comprar traje por esta altura, para se apresentarem na Serenata, à espera que seja o padrinho/madrinha a traçar-lhes a capa (coisa que não fazem, porque estupidamente alguém lhes disse que não o podiam fazer antes, nem sozinhos).

Noutros casos, os caloiros não estão proibidos de trajar, mas também ninguém os incentiva a trajar antes, subsidiando, no fundo, a ideia de que a altura mais apropriada para o fazer pela primeira vez é na Serenata Monumental.

Releva isso de uma enorme hipocrisia, pois não basta não proibir, deixando implícita e inconscientemente no imaginário colectivo que giro giro, que fica bem e melhor, que é mais adequado trajar só naquela noite.

E nisso, os organismos de Praxe são coniventes e cúmplices, achando que lavam as mãos (e respeitam mais a Praxe) e ficam impunes só porque não proíbem os caloiros de trajar.

Sabendo nós que estas coisas dos ritos são um fenómeno de grupo, e não havendo quem esclareça objectiva e formalmente, não dizer nada é o mesmo que consentir e aceitar (e passar essa ideia) de que há uma altura definida para usar o traje pela primeira vez.
No fundo, esse "silêncio" apenas induz as pessoas numa suposta liberdade que é, contudo condicionada. São, portanto, livres de comprar na altura da Queima -e para usar na Serenata (e os caloiros acham mesmo que estão a optar).
Sim, o caloiro é livre de só querer comprar o traje nesta época para usar para a Serenata, mas convenhamos que quando o que se regista é que todos, ou quase todos, o fazem só nesta altura, é porque por detrás de tudo isto está uma ideia feita, construída sobre um erro - e essa "liberdade" acaba por ser muito pouco espontânea e muito pouco livre.


Assim, participar, promover ou divulgar eventos do "traçar da capa" (ver AQUI) é defender um preconceito que, na essência, é anti-Praxe, sejam os caloiros proibidos de trajar antes ou não.



PRAXAR CALOIROS TRAJADOS

Por detrás de tudo isto (com base nessa idiotice de que os caloiros não devem/podem trajar) está muitas vezes outro erro concebido pelos próprios praxistas: mas, afinal, como é, depois, praxar caloiros trajados?

Como o traje é, hoje em dia, já não um traje de uso comum, mas apenas tirado do armário (salvo tunos e outros em actividades cujo o traje é de uso mais regular) em determinadas, e escassas, ocasiões, quase sempre ligadas ao gozo ao caloiro, é normal que o mesmo seja tido como sendo de uma intocável "sacramentalização".
Obviamente que, como todos nós comungamos, o traje merece todo o respeito, desde logo porque se deve usar com aprumo e limpeza, pelo que inconcebível andar a sujar-se um caloiro trajado ou pô-lo a rastejar, andar de quatro e quejandos.
E com muita razão, diremos nós, pese embora não nos podermos esquecer que o uniforme estudantil serve também para ir às aulas, porque a sua função primária sempre foi essa, identificando o estudante como tal.

Mas perguntemos: não eram os caloiros, antigamente, praxados e usavam traje? Claro que eram, e assim o foram durante décadas e décadas.
Porventura o que difere é que o gozo ao caloiro não passava por certas actividades a que hoje quase se resumiu o gozo.
O gozo ao caloiro tem necessariamente de implicar sujar o caloiro, pô-lo a rastejar e submetê-lo a actividades que impliquem deixá-lo num farrapo de sujidade?

Não será de parar e pensar se, porventura, as actuais práticas do gozo ao caloiro não estarão, já, demasiado longe do que era suposto, saindo, muitas delas, completamente fora do que é apropriado e adequado ?
Não será de reflectir se, tendo de praxar caloiros trajados, durante o gozo, isso não obrigará os praxistas, a pensar com mais criatividade, com maior civismo e respeito o acto de realizar o dito gozo?
Não será de redescobrir como era o gozo ao caloiro noutros tempos, optando por propor brincadeiras que sejam capazes de melhor dignificar quer esse acto quer o respeito pelo uniforme estudantil?
Tirando os actos mais bárbaros (que não se justificam de todo), não eram os caloiros, no passado, rapados, sujeitos a colheradas, gozados...? Eram, claro que sim!
E não usavam todos traje? Claro que usavam!
O que se passa, então, para, de repente, já não ser possível ter um gozo ao caloiro feito com inteligência, pertinência e graça que seja compatível com o uso do traje por parte do caloiro? Houve retrocesso intelectual?

O uso do traje deve ser subordinado ao tipo de gozo que se pratica? Não será isso um total contra-senso?

É que, de facto, quando os praxistas só concebem praxes com base em brincadeiras que implicam sujar terceiros, colocar pessoas de quatro, a rastejar, a levarem com porcarias (muitas vezes com um ofensivo desperdício de bens alimentares), transformando o gozo em recrutas mal amanhadas ou provas de duvidoso mérito praxístico, continuaremos convictos que os problemas da Praxe e das praxes continuam alimentados por pessoas que não têm 2 dedos de testa, e que usam as suas poucas capacidades intelectuais para o desperdício de serem parvas.