quarta-feira, novembro 29, 2017

Notas aos Códigos de Praxe - Um debate esquecido

Temos, ao longo dos anos, analisado, aqui, diversos códigos de praxe, evidenciando as suas falhas, explicando os erros e denunciando a crescente vulgarização da incompetência dos autores e subscritores desses documentos.
 
Aliás, como fazemos sempre questão de o sublinhar, não pactuamos nem aceitamos que estudantes do ensino superior, especialmente os que exercem cargos praxísticos, façam prova de tão profundo desconhecimento sobre a tradição que vivem, e dizem defender, e, ao mesmo tempo, demonstrem uma tão grande propensão à invenção, à asneira, e uma recusa do saber e do conhecimento, que se traduzem, depois,  em "códigos" que atentam à tradição, à Praxe (precisamente aquilo que afirmam defender).
 
Nunca, como hoje, pareceu tão óbvio que os destinos da Praxe estão nas mãos dos mais ineptos, dos que menos sabem e, em muitos casos, de ditadores em potência.

As diversas análises feitas aos códigos provam-no (para além das dezenas de documentos que temos em posse e, por manifesta falta de tempo, e por vezes paciência (porque mais do mesmo uns dos outros), não temos publicado análise.
 
Os problemas das praxes e da Praxe, queira-se ou não, passam todos pelo código de praxe em vigor. Porque é esse documento que pauteia quer os conceitos quer as práticas que, a partir daí, decorrem.
Ou por erros crassos ou por omissões dolosas, são os códigos um dos principais factores, senão mesmo o factor mais preponderante, na degradação a que chegou a Praxe, a que chegaram as praxes; no desvirtuar das próprias tradições académicas e imagem negativa do estudante na sociedade.

 
Não é com congressos sobre generalidades, com tertúlias que informam de como era antigamente, de palestras que ensinam o porquê das coisas que se chega á raiz do problema e se resolve o mesmo. Ajudará, mas, como é patente, chega a uma ínfima parte do público alvo.
É tudo muito bom, muito bonito, mas não vai ao cerne das questões.

Não é com cartas de princípios, para "inglês ver", como a lançada, em 2012, pelo autoproclamado CNTA (Conselho Nacional para as Tradições Académicas) , nem com campanhas mal amanhadas de apoio à praxe (em vídeos, em iniciativas ridículas ou entrevistas em programas de TV) ou, até, com extensos textos informativos que se lá vai.

Isto tudo, só por si, tem sido pouco.

Há mais de 10 anos que o N&M rema (e com ele outros blogues e sites, e muitos estudantes e antigos alunos). Sabemos, com toda  humildade, que algum impacto tem,  mas há que olhar à realidade. E a realidade é que isso não tem bastado, não tem chegado onde devia, porque, infelizmente, as pessoas só param para pensar quando directamente confrontadas, quando a coisa lhes entra porta adentro, quando percebem que se está a falar objectivamente delas/da sua instituição (caso contrário, fingem que é "para os outros").
 
O que se torna óbvio é que é preciso inverter o processo informativo, especialmente quando se verifica haver uma cada vez maior indiferença pelo esforço de ler, de esforçar o intelecto para reflexões mais profundas e exigentes.

 
 
 
Todos os debates, todas as tertúlias, palestras e afins (muito úteis, certamente) deveriam partir de um ponto apenas: a análise dos códigos.

Porque é a partir desses documentos e dos erros contidos, que se aponta o que não faz sentido, o que é errado, o que é falso e o que vai contra a tradição, e se apresenta, então sim, o porquê (e, aí, entram os artigos de investigação, a documentação, as pesquisas e trabalhos realizados que explicam, comprovam, desmontam mitos).

É pegando, por exemplo, na noção de Praxe, de anti-Praxe, pegando no traje e toda a panóplia de regrazinhas em torno dele, nos mais diversos artigos desses códigos - metendo directamente, e sem rodeios, o dedo na ferida - que se começa a tratar a causa e não apenas a estancar os efeitos.

É questionando o conteúdo, exigindo saber a sua fundamentação, que se demonstra, precisamente (contrapondo dados factuais documentados), a falta de substância, de precedente, as cópias adulteradas, as invenções.

Portanto, é pegar num código da instituição em causa e começar: por que razão proíbem relógios de pulso? Qual o fundamento? O que  tradição contempla, e está documentalmente comprovado é que....................... and so one.
 
Mas, temos de convir: é algo que faz tremer muito boa gente. É algo que assusta muito praxeiro e muito organismo de praxe, porque, na hora de abrir o jogo, a coisa não passará, porventura, incólume no teste do algodão e "muita careca será posta a nu".
Mas é isso que é necessário.
 
O que igualmente não se entende é que se continuem a mandar cá para fora códigos e revisões de códigos que não tenham sido alvo da ajuda, consulta e aconselhamento de especialistas na matéria (pessoas que sabem um pouco mais do assunto - porque o estudaram -  e possam facultar orientações, apresentar factos, alertar para erros).
Não que, muito pontualmente, isso não possa suceder (o N&M já foi auscultado -embora não presencialmente), mas há depois um outro problema: ignorar os factos, ignorar as dicas e reparos, porque incomodam, porque não dá jeito, porque "ainda é cedo para mudar".




O que continua incompreensível é como tantos convivem tão bem com a existência de um código de praxe, na sua instituição, que contém erros, deturpações ou, então, que não têm mesmo ponta por onde se lhe pegue.
 
 
"O orgulhosamente sós" de outros tempos parece ser ainda um lema em vigor no seio dos fundamentalistas praxeiros, a quem sobra em presunção o que lhes falta em bom-senso.
 

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